Diante do perfil do brasileiro médio dos últimos tempos, descobri que aquela história de que “Deus é brasileiro” é uma grande lorota inventada por algum mentiroso. Brasileiro, claro.
Senão, vejamos: se Deus fosse brasileiro, Ele não teria sido um pacifista. Não teria mandado Seu filho para se sacrificar na cruz, por amor à humanidade. Seria um exterminador, justiceiro, e teria matado todos os pecadores, absolutamente todos, para mostrar que é na força que se impõe um império de Paz.
Se Deus fosse brasileiro, aliás, Ele teria sido extremista e conservador. Afinal, para que revolucionar o mundo com mandamentos como “Amar aos outros como a si mesmo”, “Não matar”? Seria bem mais simples assumir o codinome de Talião e fazer de sua verdadeira lei “Olho por olho, dente por dente”.
Se Deus fosse brasileiro, seria preconceituoso e arrogante. Espancaria a prostituta, em vez de perdoá-la, talvez até estendesse a ordem de apedrejamento aos homossexuais, viciados e negros; possivelmente, atiraria Ele mesmo a primeira pedra, ainda que pecados tivesse.
Se Deus fosse brasileiro, daria um “jeitinho” de “batizar” a água que transformou em vinho, colocaria bastante fermento no pão para multiplicá-lo e tornaria peixes em piabas, pelo mesmo preço, para poder fazer com que rendessem mais. E ainda colocaria a culpa nos empregados, por possuírem direitos demais.
Se Deus fosse brasileiro, em vez de expulsar os vendilhões do templo, faria das bancadas religiosas do Seu congresso um novo santuário e faria questão de extinguir a pluralidade de fé contra seus “rivais” Buda, Krishna, Alá, Ogum e outros mais.
Se Deus fosse brasileiro, chamaria o cobrador de impostos e o convenceria a extorquir sempre de quem tem menos para beneficiar a Si mesmo e aos Seus parceiros, pois o povo não precisa saber que deveria ser o menos sacrificado. Colocaria a culpa na economia mundial e pagaria propina para o cobrador ficar calado.
Se Deus fosse brasileiro, não teria enviado Seu filho e chamado doze vocacionados para Lhe ajudarem a pregar a paz e a igualdade entre os homens através de Sua Palavra. Ele teria feito um exército fortemente belicoso e promoveria uma “varredura” para exterminar todos aqueles que não seguissem Seus ensinamentos. Educar? Converter? Para quê, se o ser humano não tem jeito? Liberaria as armas e autorizaria eliminar todo mundo que pudesse ser uma ameaça. Pediria para você atirar primeiro, e nem mesmo perguntar nada depois; sugeriria que você saísse gritando: “Bandido bom é bandido morto!”. Diria ainda a Jesus que esse negócio de “Bom ladrão e mau ladrão” na hora da cruz é lenda e que jamais ouvisse o que lhe pediu perdão, porque isso é ser defensor de direitos humanos, coisa de marginal.
Ainda sobre os apóstolos, se Deus fosse brasileiro, proibiria a eles de falar verdades, de ensinar o povo a diferenciar o Bem do Mal e instituiria a “Bíblia sem partido”, como se Sua palavra já não fosse uma opção pelo mais humilde, pelo mais pobre, pelo desfavorecido pela sociedade.
Se Deus fosse brasileiro, incentivaria a que os ricos e perdulários não só passassem pelo fundo da agulha, mas que a usassem para tirar o máximo do sangue dos seus empregados, sem lhes dar nada em troca. E quando esses distintos milionários morressem, Ele os instruiria para que levassem parte do dinheiro para subornar São Pedro e garantir passagem direta para o Paraíso (fiscal) sem passar pelo purgatório.
Se Deus fosse brasileiro, incutiria em Seus seguidores o ódio a quem quisesse justiça social e estimularia a exploração de Seus filhos sob os falsos nomes de “livre concorrência”, “meritocracia” e “reforma trabalhista e previdenciária”. E ainda declararia os que ousassem questioná-Lo “baderneiros e vagabundos”.
Se Deus fosse brasileiro, não lutaria pela igualdade entre os homens; criaria cotas e bolsas para não perder os eleitores no próximo mandato paradisíaco; faria do Calvário um palanque e se aliaria a Satanás a fim de ter bases; daria a este a vice-presidência do Céu e mais um monte de ministérios pascais.
Se Deus fosse brasileiro, diria que bom era no passado, quando os dinossauros dominavam a Terra, devorando os mais humildes e nenhum humano poderia reclamar ou ter medo; afinal, legal é quando eram mudos e seu único direito de expressão estava nas pinturas rupestres, dentro de suas cavernas. “Aquilo é que era vida!”, diria Ele, enquanto mandaria torturar e fazer desaparecer um ou outro cientista, filósofo ou jornalista inconveniente.
Se Deus fosse brasileiro, Ele não seria um revolucionário, que andava entre os mais pobres e os amava; seria um megaempresário opulento e explorador, cuja caridade é dar subempregos, em vez de bons salários, e ainda se acha um grande benfeitor por fazer de seus servos sobreviventes eternamente acorrentados a um destino de miséria e submissão.
Mas então… Como surgiu essa coisa de que “Deus é brasileiro”? Ora, é fácil deduzir… Assim como muitos de Seus falsos seguidores fazem hoje, hipócritas e sepulcros caiados que são, eles ficaram repetindo a mentira mil vezes até a gente achar que pode ser verdade… E ainda há quem acredite neles…
Não… Deus não é brasileiro… Entretanto, se fosse, muita coisa hoje seria fácil de explicar…
26 de maio de 2017
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