Não pude deixar de notar, em uma reunião de uma das escolas onde trabalho, o texto “motivador” que nos foi  lido, sob o esperançoso título de “O cuidado com os professores”. Imaginei que finalmente alguém poderia ter pensado em nós, em cuidarem desta classe tão abandonada, sugada até as últimas forças. Doce ilusão.

                Como em todos os outros textos que versam sobre a educação, era um tal de “o professor deve…”, “cabe ao professor…”, “isto obriga ao professor…”. Até quando? Até quando?

                Sonho com o dia em que as escolas se reúnam em suas cúpulas nos mais variados níveis para gastarem tempo pensando em como diminuir as atribuições do professor, como fazer do seu funcionário alguém feliz, satisfeito não só com o ensino, mas com as condições que lhe oferecem de trabalho. E não entendam condições de trabalho aqui como uma tecnologia avançada, uma festa bem legal de dia dos professores ou discursos bonitos sobre nossa importância para a sociedade, para os alunos e para a própria escola.

                As escolas precisam entender que somos felizes com o  reconhecimento de nossos alunos, de suas famílias e de pessoas a eles ligados porque eles não possuem qualquer poder de decisão que interfira em nossos lares, momentos de lazer ou contas bancárias. Eles dão o que podem: gratidão. Quem pode transformar algo prático em nossas vidas são nossos patrões: federais, estaduais, municipais ou particulares.

                Voltando à tal reunião, quase dentro de um universo paralelo (infelizmente), imagino nossos chefes procurando formas de nos dar um merecido repouso quando necessário. Em vez de procurarem ainda mais atributos para o professor, procurariam redistribuir o peso de nossas atividades entre os mais diversos setores da escola, inclusive para si mesmos. Certas burocracias poderiam ir para a secretaria, supervisões, coordenações de área.

As provas poderiam ser fiscalizadas (com remuneração extra, claro) por outros setores menos ocupados enquanto as provas ocorrem, ou por ex-alunos, sedentos por uma graninha – “e o professor vai embora mais cedo?” –  É, vai, qual é o problema? Corrigir logo aquelas provas, para ter direito a um final de semana com a família, sem ficar, uma vezinha num bimestre, sem ter que dizer, durante o momento mais agradável: “agora, vou parar, gente, tenho que trabalhar”. Ou mesmo resolver alguma coisa, ir a um médico, acertar as contas naquele banco pois ele nunca tem tempo de ir, ou simplesmente sentar ao livre num happy hour… para quando ele for corrigir no fim de semana ter a sensação de que não é uma máquina sem direito a folga. “Ah, mas a escola vai ter gastos extras enquanto o professor está em casa”. Essa é a visão retrógrada. Não é gasto. É investimento. É apostar que um professor mais feliz é um melhor professor. Não que ele só faça sua obrigação por motivação extra. A prova disso é que fazemos hoje, sendo totalmente explorados. Cumprimos nosso dever. Imagine como o faríamos sabendo que estaríamos sendo pagos pra fazer o que  realmente nos compete, que é mostrar nosso talento para abrir as portas para o aluno desenvolver seu conhecimento?

Imagine uma escola que se preocupasse com o bem-estar de seus mestres, e não com o fato de ele ficar doente “demais”. Será que ninguém enxerga que professor satisfeito, descansado e feliz em casa adoece bem menos? E que teria até vergonha de faltar, faria um esforço ainda maior (porque já o fazemos) para não deixar nossos alunos na mão? Será que não veem que se somos tratados como profissionais, sim, mas com o carinho de uma família, assim como nesta, nos esforçamos para não desagradá-la?

Mas a visão fria dos números e resultados parece a única forma de avaliar um professor, a não ser no dia das homenagens, dos discursos vazios, que mais parecem exercícios de hipocrisia, ressaltando nosso “sacerdócio” e heroísmo mártir. Não fizemos voto de pobreza nem juramos, ao receber o diploma, morrer de estresse pela educação. Precisamos de cuidado conosco, não de que nos cuidemos para aceitar tudo o que já está aí.

PS: Observem que não se falou em salário. Não é que ele não importe. É que muitas vezes o dinheiro realmente não é a única coisa que importa. Respeito e cuidado valem tanto quanto. E se forem dados sem desconto do imposto de renda, então…

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