20 de maio de 2013

 

Caros professores e professoras, companheiros de profissão, do nosso estado do Ceará, ou alhures. Peço que tenham a paciência de ler este texto na íntegra, e que façam o que é pedido ao final, caso se identifiquem e desejem fazê-lo:

Estamos todos cansados do desrespeito a que a classe vem sido submetida por anos e anos a fio. Seja no ensino público (Federal, Estadual, Municipal, uns mais outros menos) ou no privado, a remuneração dos professores em todos os níveis tem sido gradativamente defasada, sem atender os reais índices das perdas da inflação. E olhem que não me refiro a tentar repor o que nos foi tomado em eras passadas (um absurdo), falo apenas sobre os últimos 10 anos.

Como desconheço a realidade do ensino superior no momento (acredito que seja pouco diferente, se não pior) e trabalho em rede particular (sem dúvida uma das situações mais difíceis de resolver, pois mexer com interesses econômicos diretamente é provavelmente ainda pior que tratar com governos), venho aqui dizer que está passando da hora em que deveríamos nos mobilizar para um real reconhecimento de nosso valor e cobrança por atitudes práticas em nome de nossa melhoria no trabalho.

Afinal, incutiu-se na cabeça das pessoas (não acidentalmente, com certeza) que somos uma classe com um trabalho “sacerdotal”, “sacrificante”, “honrado”, e que, por possuir essas virtudes ”inalienáveis”, devemos aceitar nossa triste realidade com um sorriso orgulhoso nos lábios, para o bem da sociedade e de nossos alunos, para que eles não nos vejam como pobres coitados. E não somos, é fato. Há trabalhadores que estão em situação bem pior que a nossa no país. Tão dignos e “sacerdotais” quanto nós, e que padecem de reconhecimento de igual maneira. Mas isso não me conforma. Não aceito esse argumento para engolir goela abaixo o outro mito maliciosamente difundido nas pessoas (e mesmo entre nós, pasmem!) de que corrigir e elaborar provas todas as noites e fins de semana são os “ossos do ofício” do magistério. Nem que o sacrifico de nossos momentos familiares são coisa normal da sacrificante escolha, “regiamente recompensada” com discursos calorosos e sorteios nos eventos de Dia dos Professores.  Ou que o professor tem de ser orgulhoso, vestir-se bem, ter um carro do ano, não reclamar, para poder demonstrar que tem valor. Não que seja necessário andar maltrapilho, a pé ou “chorando miséria”, ou ainda gostando de ou espalhando piadinhas conformistas sobre nossa situação (como aquela ridiculamente famosa do assaltante que tem pena de nós). Mas não podemos também passar a impressão de que está tudo bem, quando não está. Contestação e cobrança explícita, sem nos fazermos de coitados, eis o caminho sereno e correto a seguir.

Chega! Queremos reconhecimento real! De salário, de dignidade, de estudos sérios sobre o fato de estarmos entre as profissões mais estressantes do país, quando precisamos exatamente de tranquilidade para executar a mais árdua das profissões: sedimentar ou formar todas as outras.

E existem, sim, coisas que podemos fazer: ir a câmaras, assembleias, sindicatos, exigir que se tomem providências, que o Ministério Público intermeie as nossas relações com os patrões, que a imprensa denuncie e lidere uma campanha pela nossa valorização. Temos que mostrar que não somos felizes com a situação, embora entendamos que não sejamos a classe mais desfavorecida de todas. Mas nossa importância urge mudanças nas relações trabalhistas. E para todos esses locais, devemos levar uma pauta com reivindicações. Eu, pelo menos, apresento 3 sugestões de formas de valorizar nossa classe que coloco para a apreciação de vocês. Não pretendo aqui criar um motim, ou um confrontamento com direções de escolas. Mas espero, sim, que outros como eu levantem uma voz indignada e que se inspirem para que possamos, todos juntos, fazer de ideias como essas (ou outras de igual quilate) uma pauta de luta. Pelo bem de nossa categoria, e mais: pelo futuro da mesma. Não é mais possível ficarmos apaticamente reclamando dentro de salas de professores e nos acovardando diante dos que nos pagam os salários, sejam governos ou patrões.  Portanto, eis minhas ideias, pontapés iniciais, espero, de uma breve reação da classe:

1 – No campo pedagógico : O professor passa a ser funcionário de uma escola em 2 turnos, com a mesma carga horária; em um, para dar aulas, em outro para realizar atividades como elaboração e correção de provas, estudo, reciclagem, reuniões ou atendimento de alunos no contraturno e eventual substituição de um colega que necessitasse de faltar (tudo devidamente acompanhado e comprovado) . Assim, ele poderia ter suas noites e fins de semana dedicados ao sagrado lazer, companhia da família, ou simples descanso, como a esmagadora maioria da população brasileira. Isso traria benefícios para a própria escola, pois professor feliz e descansado rende muito mais para o aluno e para a instituição.

2 – No campo financeiro (possibilidade 1): Os professores passariam a receber por hora aula (inclusive a educação infantil e fundamental) o equivalente a dez por cento do valor da mensalidade paga pelos pais dos estudantes. Mesmo que os encargos trabalhistas cheguem a aumentar a despesa das escolas, não se imagina que os funcionários responsáveis pela parte mais importante e complexa do processo educacional mereçam ganhar menos que isso.

3 – No campo financeiro (possibilidade 2): Caso a possibilidade 1 não se concretize, que ao menos mude-se a nossa data-base para a mesma época do reajuste das mensalidades. Criaria-se um teto mínimo para o aumento dos professores baseado no índice da inflação anual do governo federal, e ele só poderia ser maior se a escola também reajustasse as mensalidades mais que isso. Ou seja, receberíamos um reajuste igual ao que as escolas cobram dos pais, ou, caso ela opte por fazer um reajuste menor, que tenhamos um ganho real, de acordo com a inflação. Isso estaria também associado a um plano de cargos e carreiras que premiaria a formação pessoal e o tempo de serviço do professor naquela empresa.

Se você se identificou de alguma forma lhe for conveniente, professor (a), divulgue, compartilhe com outros colegas de profissão esse texto.  É de pequenos gestos como esse que se começa uma ideia para transformar nossos anseios em realidade. Quem sabe?

Abraço, Roderic Szasz.

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