Outubro de 2016

 

Bem, embora não vibre mais por nenhum time local, sempre torci para que o futebol cearense ficasse bem representado no cenário nacional. Primeiro, porque sou daqui e gosto de meu estado (e aos patrulheiros de plantão aviso logo que Amor não conhece Geografia; se assim fosse, eu seria obrigado a gostar de forró, rapadura ou cachaça – nem percam seu tempo me criticando por isso. O Amor por um time não é uma escolha racional, muito menos passível de crítica; ama-se e pronto); segundo, pensando de forma bem prática, porque assim meu time viria mais vezes jogar aqui.

Portanto, entristece-me ver a que ponto nosso futebol “dor-de-cabeça-chata” chegou. A maior alegria dos dois gigantes Adamastores, não só do estado, mas da região Nordeste (pelo menos no tamanho e/ou dedicação de suas torcidas) restringe-se a comemorar o insucesso do rival. De tal forma que fomos “minimizados” a Adamastores Pitacos (ou seria “Pataca”?). O Fortaleza, um mitológico Sísifo ultramoderno, há 6 anos fica no quase, subindo a ladeira de novo, para depois rolar com pedra e tudo. E o Ceará, qual a encarnação do Hércules-Quasímodo euclidiano, consegue em menos de seis meses sair de Campeão da Região à vergonha dela, praticamente rebaixado para a draga onde o seu coirmão tricolor se encontra, a não ser que o Hércules se torne Lázaro.

A atual terceira força, vinda das terras do Padre Cícero, até pouco tempo brigava para subir para o Paraíso de Milton: a série A.  Hoje, com tal Paraíso literalmente Perdido, nem mesmo com o citado santo no lugar de Caronte conseguiria se livrar do Inferno da série D, do qual o outro time juazeirense, o rival Guarani (pobre Alencar, foi por tabela para o inferno), sequer chegou a passar do primeiro círculo, o do Limbo: nenhuma vitória em 8 jogos.

E o que dizer do Ferroviário, antiga terceira força alencarina (olha o Alencar, aí, de novo!)? O pobre Barão de Mauá, se vivo fosse, a essa altura seria um plebeu endividado e que, provavelmente, já teria sugerido a mudança de nome para “Metroviário”, o que, neste nosso nobre estado, significaria, no mínimo, dez anos para as primeiras mudanças. É uma Barra, mesmo, o que esse simpático time e sua torcida suportam.

E o Guarany? O time sobralense precisaria da ajuda de Luzia-Homem para reerguer-se dessa seca teofiliana. É a “Fome” de voltar a ser temido. A cidade só viu bola num amistoso entre os amigos de Zico e a Seleção Cearense Master, em maio. Ou seja, para não sair do tema ensolarado, nem a centenária e raqueliana seca de ”O quinze” poderia ser mais cruel para o nosso futebol, neste 2015.

Que 2016 traga chuvas, também de gols, para o nosso estado. Ou essas secas acabarão com as perspectivas de um glorioso recomeço para nosso futebol: com menos disputa entre Esaú e Jacó, digo, entre Ceará e Fortaleza, e mais pensamento no engrandecimento coletivo dos times locais (afinal, o futebol é um esporte coletivo, já diz o jargão), a fim de que as memórias do futebol cearense não sejam póstumas.

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