Não sou muito dado ao humor que popularmente é chamado de “pastelão”. Prefiro o sarcasmo, o humor inteligente, a piada que precisa de ter conhecimento cultural e referências para se entender. Mas não quero ser taxado como um intelectualoide chato. Eu também tive infância, via “Sessão da Tarde” e ri de bobagens deliciosas.

 

Jerry Lewis era o meu segundo preferido. O primeiro a quem reverenciei no cinema moderno, já que os prediletos (Oliver Hardy e Stan Laurel, mais conhecidos como “O gordo e o magro”) e o terceiro mais querido (Charles Chaplin) iniciaram suas carreiras no cinema mudo e ali fizeram o melhor de seu trabalho.

 

Jerry era um ator impressionante. Conseguiu despertar em mim duas extravagâncias raras, em se tratando de acompanhar uma película cinematográfica: a gargalhada e as lágrimas.

 

Entre as milhares de gargalhadas, destaco a hilária cena da máquina de escrever. Adorava imitar os trejeitos de Lewis ao fazer de sua máquina uma música, em “Errado pra cachorro”. Até alguns anos atrás eu ainda imitava (“interpretava”) esses “mungangos” (perdão pelo regionalismo, a quem é de fora do Ceará).

 

A cena que me fez chorar, por me identificar muito com sua dramaticidade, eu não consegui encontrar isolada na Internet. Vem do filme “O rei do circo”. Nessa história, Lewis é um palhaço que faz todos rirem muito. Mas uma criança paralítica não ri de suas tentativas de ser hilário, de modo algum. Percebendo o fato e querendo agradá-la, ele passa a dedicar suas palhaçadas diretamente para ela. Sem sucesso. O sofrimento de vida da garotinha era imensamente superior aos trejeitos do humorista e seu rosto mostrava uma sombria indiferença às hilárias caretas e quedas do esforçado artista. Angustiado por não conseguir fazer a infeliz menina sorrir, ele se desespera e começa a chorar. Assim que percebe o palhaço chorando, ela sorri e diz: “O palhaço está chorando!”, para logo em seguida cair em sinceras gargalhadas.

 

Assim sempre me vi: aquele que se esforça para agradar, para ser simpático e feliz, mas que só conquista a simpatia quando sofre. No meu caso, quando derramo as dores através de meus textos literários. Triste realidade de quem vive da Arte. Não importa o quanto queiramos ser felizes. É na desgraça que encontramos respaldo e reconhecimento. Porém, se isso me dava angústia quando mais jovem, hoje me enche de orgulho.

 

Que eu continue a sofrer e fazer rir e refletir.

 

E obrigado pelos risos, lágrimas e lições de Arte, inesquecível Jerry Lewis.

 

21 de agosto 2017

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