Ela chegou bem devagar, mas determinada, me despertando em sobressaltos na prematura aurora. Sua presença se fez anunciar sussurrante em meus ouvidos e estes se regozijaram, fazendo-me saltar da cama, já nu. Sim, nu, porque dessa maneira eu dormia em minha noturna solidão, a esperá-la havia dias, semanas. Não fazia questão de preliminares, queria saciar-me imediatamente, tão logo ela aparecesse. Por isso, nem lençóis usava, a fim de que estes não fossem obstáculo para minha gana de possuí-la com voracidade. Com a força de seu chamado me convocando a desfrutá-la, parti, assim mesmo, despido de toda a moral e vergonha, ao seu encontro.
Saltei da cama e corri escada abaixo, as mãos trêmulas entre ansiedade e formigamento, procurando a chave correta para abrir a grade que levava à pequena areazinha antes do portão. A volúpia por ela me consumia, precisava senti-la na pele, deixá-la escorregar-se por meu corpo, arrepiar-me os pelos e o sexo. Queria abrir minha boca sob sua saliva gelada e, com braços abertos e olhos fechados, repousar meu clímax em seu cúmulo ventre de fluidos refrescantes.
E assim que me vi protegido das visões alheias pelo muro, entre a grade e o portão da rua, deliciado, deixei meu corpo efervescente e sequioso se satisfazer em plenitude no mais esperado gozo aconchegante – ainda que muito rápido, diria quase precoce – que um banho de chuva pode proporcionar a um ser humano… Como se aquele líquido precioso tirasse o atraso de todo um ano complicado demais, e me permitisse fecundar a esperança de que um novo período de deleite e prazer em viver estaria a se iniciar ali.
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