O genial poeta português Fernando Pessoa descobriu, através da Arte, o que muita gente levou anos estudando, no ramo da psicologia: não somos uma única persona. Às vezes uma coisa que nos faz bem num dia, nos deixa muito mal noutro. Uma maneira de se vestir, uma piada, uma atividade repetida.
Acho que fiquei assim nesse dia. Estava aborrecido, cansado, de saco cheio. Tanto que estou demorando mais que o normal até para escrever minha diacrônica de hoje. Não me estafei do confinamento em si, mas de ver tanta demagogia por parte dos defensores do asqueroso Bolsonaro. Porque é gente que insiste em justificar o injustificável. Todavia, não quero me alongar ainda mais nesse assunto, para não me estressar de novo.
Por enquanto, me basta saber que os dias estão difíceis, mas não piores do que eu poderia supor,(para mim, óbvio) porque tenho mil distrações: leio, escrevo, ouço música, vejo filmes e séries. Fico pensando nas pessoas que não possuem acesso a isso tudo, ou que simplesmente não gostam muito de cultura. O que fazem? Como sobrevivem? Não é tema de Globo Repórter, mas daria pra ser.
E é porque vivemos num mundo tecnológico que facilita muito as coisas. Acesso a lazer e informação na palma da mão. Sobreviveram muitos na Peste Negra, na Gripe Espanhola. Sobreviveremos vários também, desta vez. Mas a que custo mental?
A gente se sente mais injustamente preso que Henri Charrière, o Papillon, da obra homônima. Embora a prisão dele seja perpétua e a nossa, não, dá uma angústia saber que um comedor de morcegos fez isso tudo acontecer. E ainda há quem fale mal do Ozzy Osbourne, que mordia animais de brinquedo ou já mortos, atirados pelos fãs, em brincadeira, durante seus shows. Só que um desses fãs, inadvertidamente, jogou um morcego vivo. Ozzy não percebeu. E a fama de “comedor de morcegos”, também injustamente, proliferou (verbozinho desgraçado).
Vamos em frente. Assim como Henri fugiu e Ozzy ainda anda gravando por aí, nós também daremos muitas voltas por cima e por baixo, nesse mundo novo que virá, depois disso tudo, embora não tão “admirável” quanto o de Aldous Huxley. Mas quem sabe façamos como o protagonista Bernard Marx e aprendamos a valorizar mais coisas “simples e ultrapassadas”, como um abraço, um aperto de mão e a convivência familiar…
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