Hoje vou falar de assuntos não muito agradáveis. Aviso, de antemão, que as pessoas sensíveis ou com opiniões mais radicais devam parar por aqui, mesmo, e voltar (por favor – risos) amanhã.
 
 
Antes de mais nada: como é terrível ver o brasileiro ser tão irresponsável em suas atitudes. Ontem eu vi um grupo passando por minha rua, rumo a uma praça aqui ao lado. Três jovens adultos (dois rapazes e uma moça), uma senhora com um cachorrinho ao colo, três crianças. Estavam munidos de uma bola de futebol e raquetes de frescobol. Já iam, inclusive, dando raquetadas de um membro da trupe para o outro, rindo e se divertindo, como se nada estivesse acontecendo.
 
 
Às vezes penso que os brasileiros acreditariam muito mais num ataque alienígena dito num rádio por um inventivo radialista e ator lendo o início de um excelente romance de ficção (se você pensou em Orson Wells, H.G.Wells e na “Guerra dos Mundos”, sim, foi essa mesma, a alusão) do que nos cientistas. Se ao menos nosso povo tivesse o costume de ler, poderia alegar, ironicamente, ser um “Homem invisível”, do mesmo autor britânico, inatingível por um vírus “cego”. Mas, não. É pura ignorância, mesmo.
 
 
A mesma ignorância de quem clama por pena de morte, no país. Eu sempre defendi a prisão perpétua, para crimes gravíssimos, hediondos. E talvez essa quarentena dê aos defensores do ato final a justa medida de como esse isolamento pode ser ainda mais cruel – não entrarei no mérito da questão de se é merecido ou não – do que uma morte rápida. Sugiro que leiam “Malerba”, de Carmelo Sardo e Giuseppe Grassonelli, para entenderem o que digo. Estamos numa prisão domiciliar que, se não é perpétua e já deixará marcas indeléveis, com certeza será motivo e orgulho e aprendizado, para quem passar por ela incólume, mentalmente.
 
 
Eu já tenho tentado evitar – acho que já falei sobre isso, me perdoem, não estou com paciência pra reler o que escrevi noutros dias – ficar vendo informativos a todo instante. Normalmente, aguardo os resumos desesperados ou debochados das redes sociais, faço meu filtro, vejo UM noticiário e tiro minhas conclusões. De outra forma, vou enlouquecer, como muitos já estão. Eu me lembro de uma frase da poeta norte-americana Sylvia Plath, em “A redoma de vidro”, uma rara narrativa sua que retrata bem o estado em que podemos ficar, mesmo aparentemente estando bem: “Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia”. Um livro incrível, aliás, o último lançado em vida pela autora, antes de morrer… de depressão. Portanto, não muito recomendável para pessoas susceptíveis.
 
 
Esse vazio de morar só é compensado pela leitura, pela escrita, pelos filmes de terror e pelo rock. Não me pego falando sozinho e espantei minha lagartixa insistente, única parceira para eventuais crises de verborragia. Ainda assim me mantenho são mentalmente, enfim. Entretanto, como bem cantou o ilustre Alceu Valença: “A solidão é fera, a solidão devora/É amiga das horas, prima irmã do tempo/E faz nossos relógios caminharem lentos…” Melhor prevenir e deixar este texto como está, mesmo.

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