Convido a quem me acompanha e possui qualquer aplicativo de música ou simplesmente o Youtube a ouvir “Mentiras do Brasil”, de Gabriel, o Pensador, enquanto lê estas linhas. Ou então logo após, caso o som atrapalhe a leitura. Lá você encontrará inúmeras das mentiras tradicionais ditas em e sobre nosso país, as quais até “o Pinóquio teria vergonha de contar”. Carlo Collodi, se conhecesse o Brasil, teria feito uma versão Zé Carioca do boneco de madeira.
 
 
 
Do descobrimento à gripezinha, o maior país da América do Sul tem em sua história um leque de mentiras que fariam de Fletcher Reede (personagem de Jim Carrey em “O mentiroso”) quase uma Madre Teresa de Calcutá. Lavadores de cérebros que vieram “salvar pobres selvagens do inferno” pelo desconhecimento de Deus. Príncipes proclamadores de independência que só tinham interesses pessoais e dor de barriga às margens do Ipiranga. Heróis da Guerra do Paraguai que na verdade eram assassinos. Ditadores que vieram nos “proteger” de uma “ameaça comunista”. Jogadores de futebol que simulam passamentos e lesões em campo. Presidentes atletas que simulam flexões. A lista é longa. Sem falar em corruptos, falsos profestas, empresários, políticos, líderes religiosos… É uma verdadeira MITOmania (sério, esse é o nome da doença de quem tem obsessão por mentira, pode pesquisar! – risos) que culmina com toda a população, quando fura a fila, “esquece” de devolver o troco que veio a mais, faz “gato” na eletricidade, no wi-fi do vizinho, na Netflix…
 
 
 
O brasileiro vende a alma, a mãe, o Cristo Redentor. Se bem que isso não é original, o austro-húngaro (poxa, pai, teu conterrâneo? – risos) Victor Lustig vendeu a Torre Eiffel, nos anos 20 do século passado. Aliás, o dia da mentira se originou depois da implantação do calendário gregoriano, quando alguns franceses, reticentes à mudança das datas das festas de fim de ano, continuavam a celebrar no período anterior – então “mentiroso” – sendo, por esse motivo, vítimas das chacotas dos amigos. Isso ainda no século XVI.
 
 
 
O dia da mentira se tornou “oficial” no Brasil em 1848, quando um periódico pernambucano foi criado, nessa data, 1° de abril, com o objetivo de fazer brincadeiras, dando notícias falsas. E começaram mandando uma mentira “top”, como dizem os mais novos: “mataram” o então imperador D. Pedro II. Apesar do revelador nome de “A mentira”, a repercussão (ou burrice da população?) foi tanta que o periódico teve de fazer um desmentido no dia seguinte. Pronto, eis o tataravô das fake news, só que estas sem os desmentidos, o que demonstra a incrível capacidade do brasileiro em aprimorar defeitos!!
 
 
Hoje o cidadão mente e depois se faz de desentendido; apaga a postagem; alega que invadiram sua mídia social ou simplesmente deixa a mentira lá e, qual um Nero sem grife, observa o circo pegar fogo. É o palhaço queimando o próprio lar. E há especialistas nisso: os que dizem ser verdade mentiras cientificamente contestadas. Exemplos disso são os terraplanistas, os antivacina, os sociólogos de Facebook e, mais recentemente, os defensores de que devemos ir às ruas despreocupadamente, pois o Coronavírus é uma gripezinha, um resfriadinho que não pegaremos, pois nossos mergulhos no esgoto e os vidros blindados “nas grandes cidades de um país tão irreal” são “os muros e as grades que nos protegem de nosso próprio mal” (obrigado, Humberto Gessinger!).
 
 
A grande verdade é que lhes sou grato por me acompanharem até no dia da mentira. Logo a mim, que a odeio tanto. Até mais.

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