Nesta época em que dedicamos mais horas ao pouco digno ato de perambular pelas redes sociais por ter pouco a fazer e precisar gastar o tempo, flagrei-me constatando que sou sisudo demais. Ou talvez não o seja, deixarei para meus avaliadores o veredicto. Não sou um juiz, mas um investigador metódico e instransigente das almas alheias, sem grande sucesso, em inúmeras ocasiões. Quisera eu ser um Sherlock Holmes, de Sir Doyle ou um Hercule Poirot, de Agatha Christie. Nada, não chego nem a um folclórico Ed Mort, do Veríssimo.
Entretanto, deu para perceber o quanto a quarentena afeta de forma diferente as pessoas. Existe gente para todo gosto: os conspiratórios políticos, que buscam explicações absurdas para a origem do confinamento ou preconizam planos maquiavélicos para a extinção ou a continuidade dele. Em oposto, os alienados, que não acham nada e só estão interessados em encontrar e divulgar o maior número de piadas possível. Os lamentadores, que passam o dia a publicar o que gostariam de estar fazendo e a tristeza que é a vida sem fazer nada. Os “cabeça”, que ficam indicando filmes, músicas, livros pra galera. Os fúteis, que ficam comentando assuntos banais como vida dos artistas em confinamento, BBB, lives de artistas de qualidade questionável, etc. Os fervorosos, que passam o tempo a mandar mensagens cristãs ou de autoajuda em suas timelines, ou ainda que procuram explicações bíblicas (sobretudo apocalípticas) para o momento. Os angustiados, que se questionam a todo instante quando isso tudo vai terminar e não escondem sua neura. E os esforçados, que lutam por demonstrar tranquilidade, com fotos alegres, bom humor e resiliência.
No fundo, todos temos um pouco de cada um dos tipos acima. Em alguns grupos você se identifica mais, em outros menos. Eu, por exemplo, me encontro nos cabeças, mas também sou meio conspiratório e até fútil. As redes sociais permitem que a gente se dê ao luxo de transitar, de tempos em tempos e de acordo com nosso estado de espírito, pelos segmentos variados… Às vezes fico observando a cultura, o caráter e, claro, a beleza – não seria hipócrita em negá-lo – das mulheres, imaginando como elas devem ser interessantes, até mesmo sonhando com alguém para namorar. Depois me pego numa discussão com uma pessoa de pensamento religioso ou político diferente do meu, pra findar o dia falando mal do BBB (quer dizer, até onde acompanhei, pois parei) ou rindo de uma piada idiota, por vezes até compartilhando!
As mídias sociais viraram a versão moderna da “Janela indiscreta” hitchcockeana. Ali vemos um mundo de individualidades e as avaliamos “do alto” de nosso Windows, com nossas “pernas quebradas”, sem sair de casa. Focalizamos o cenário, o mundo as pessoas, e as fotografamos e julgamos com a lente que melhor nos convém: comum, com zoom, flash, colorida, sépia, preto e branco, distorcida, com ou sem efeitos. Viramos investigadores da vida alheia. Só não nos esqueçamos (sim, inclusive eu) que nossa investigação também expõe muito de quem somos.
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