Nunca fui muito ligado à cultura popular. Se por um lado não tenho orgulho disso, por outro não vejo como um grave defeito. Para mim, é uma simples questão de gosto, que é discutível, claro, mas cujo debate não me importa muito. Talvez isso se deva ao fato de eu ter uma tendência a me aproximar de tudo aquilo que é menos provável, com menos “fãs” ou, simplesmente, “esquisito”.
Do time de futebol (que não é local, nem “queridinho” da mídia nacional) ao gênero de filme, das bandas às faixas menos tocadas dessas próprias bandas; dos autores ditos mal como malditos a velharias de museólogo, minhas opções culturais e, às vezes, mesmo as de vida, são pelo mais difícil, complexo, estranho. Assim, na literatura, por exemplo, sempre preferirei antagonistas a mocinhos; psicopatas a detetives; belezas secundárias, atípicas a protagonistas que sejam grandes beldades.
O popular é simples, fácil, de entendimento realmente acessível. Conquanto socialmente me identifique com essa parcela da sociedade, culturalmente vou no caminho oposto. Vejo, inclusive, que sou bastante elitista, nesse campo cultural. Chego a me irritar com a injusta popularidade de algo sem muito valor artístico. Mais uma das dicotomias que me formam. Quase uma Emma Bovary da contradição.
Contudo, hoje resolvi trazer à tona, bem ao modo Luís Câmara Cascudo, um levantamento das confirmações e contradições dos ditados populares na política brasileira. Vou começar logo pelo utópico “A voz do povo é a voz de Deus”. Como bom democrata que sou, entendo que a vontade do eleitor brasileiro se fez, em 2018. Mas daí a dizer que essa voz é de Deus… está muito longe. Diria até que Lúcifer aprendeu a ser ventríloquo e foi soprar seu voto no ouvido do povo, que o reproduziu nas urnas.
Mesmo assim, eu não fiquei tão preocupado, porque “A mentira tem perna curta”, certo? Errado… No Brasil, ela tem perna mais longa que o coelho famoso da Warner Brothers. A tal ponto que se prolifera em Fake News que mais parecem uma versão macabra e hardcore das “Mil e uma noites”. Só que Sherazade, aqui, se divide entre um Ministro de Educação inculto e mal educado e uma Ministra dos Direitos Humanos e da Família que desconsidera as variedades de ambos e propaga delírios da estirpe do chá de folha da goiabeira. Aí as mentiras vão longe…
Todavia, tenhamos calma. Deve haver algum bom ministro, nesse governo. Até teria um ou outro que poderia escapar, se não política, tecnicamente. Só que aí vem a confirmação do “Dize-me com quem anda e te direi quem és”. Os poucos competentes ou são menosprezados, a exemplo do astronauta Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia (como um astronauta aceita ser o ministro representante da ciência em meio a terraplanistas é um mistério que nem Hamlet ousaria imaginar) e o hoje ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta que, se politicamente era bem retrógrado, pelo menos tinha competência técnica e enfrentava os erros de seu líder patético e descaradamente mal intencionado. Resultado? Foi demitido. Mais um ditado desmistificado: “Em terra de cego, quem tem um olho…”. Nem termine. No caso, quem tem um olho, aqui, o da ciência, é decapitado pelo rei cego.
E o povo aplaude as sandices desse rei “mitológico”, que pretende priorizar economias em vez de vidas, provando que “De médico e de louco, todo mundo tem um pouco”. De uma hora para a outra, os médicos e estudiosos estão errados e a população virou expert em técnicas para retardar o Coronavírus, mais do que a Organização Mundial da Saúde, os cientistas e as entidades clínicas do planeta…
É aquela hora em que você diz: “Calma, Roderic, afinal… Aqui se faz, aqui se paga”. Essa é a pior mentira pernalonga de todas. Esse bando de escroques estúpidos e cruéis que comanda o país, iluminados por um astrólogo bocório e abjeto que se autoproclamou filósofo e por um presidente torpe e escroto, todo esse bando e seus líderes não sofrem nada. Nós, Brasil, é que pagamos… o pato.
E está na hora de eu parar por aqui, a fim de não me alongar nas merecidas ofensas, porque “Em boca fechada não entra mosca” e “Gato escaldado tem medo de água fria”. Vou finalizar com um conselho que será muito útil como para todos vocês, e com um desses ditadozinhos bem legais, um dos favoritos de minha finada mãe adotiva. Pratiquem a prudente desobediência civil, não deem ouvidos a esse geronticida. Fiquem em casa. “Boa romaria faz quem em sua casa está em paz”.
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