Uma colega da época da infância postou em um grupo uma dessas mensagens encaminhadas que dizia algo mais ou menos assim: “Viu só? Podemos viver sem jogadores e sem atores. Mas não podemos viver sem médicos, enfermeiros, policiais, caminhoneiros, lixeiros…” Parei e pensei por uma meia hora se deveria responder ou não… Respondi. Houve leve troca de farpas educadas, algo se assemelhando ao embate por artigos de jornais entre Feliciano de Castilho e Eça de Queirós, na época da Questão Coimbrã, em Portugal. Ao contrário dos dois mestres, nós encerramos o assunto, em nome da amizade. Mas aqui eu posso prosseguir.
Ao longo da história, de trabalho doméstico à filosofia; de bobo da corte a arauto político; de “vagabundagem” à profissão, o artista tem tido papéis que refletem o pensamento da sociedade e retornam em forma de reflexão da própria. O artista não é melhor que ninguém, nem pior. Aliás, todos têm seu papel no mundo, e em cada específico momento, maior destaque. Neste momento de pandemia, os cotados na “brincadeira”, evidentemente, são muito mais fundamentais, imprescindíveis em seu valor.
Porém, vejam que os artistas igualmente estão tendo o papel de levar, através de suas “lives”, um pouco de lazer e sonho para dentro dos lares tão ansiosos por alguma diversão. Sem falar que ainda servem de exemplo, como figuras midiáticas e, portanto, naturais influenciadoras, para as pessoas se resguardarem em suas casas. Sem falar que isso lhes dá a tão necessária exposição e sustento através de campanhas. E assim, como Adrian Leverkühn, o músico que compactua com o demônio, em “Doutor Fausto”, de Thomas Mann, eis que o artista vive esse embate entre a pureza da Arte e sua consagração, entre o dom e a sobrevivência.
Então, retornando ao tema principal, não vejo que existam profissões as quais possamos simplesmente dispensar. Mesmo os jogadores de futebol, que muitas vezes nos causam certa irritação com o volume de dinheiro arrecadado e a pouca maturidade para administrá-lo, têm importância para mostrar o valor da atividade física. E, convenhamos, em várias modalidades as disputas se assemelham a obras de arte, tanto que os praticantes dos Jogos Olímpicos na Grécia Antiga tinham status de artistas. Ademais, não sei quanto a vocês, mas eu conheço gente que está desesperada por voltar a ver um bom e velho jogo de futebol (inclusive este Colorado apaixonado pelo Inter). Então, vejam, eles também fazem falta.
Embora não sejam médicos ou enfermeiros, o entregador de água faz falta, a moça do cafezinho, o trocador de ônibus, o recepcionista, o jardineiro, o palhaço, o vendedor de bombons, a confeiteira, a “tia” da cantina, o seu “Zé” que guarda carros, o manobrista, a diarista, o segurança, o ascensorista, a vendedora de loja. O barman, a barwoman (só para lembrar que todas as profissões anteriores podem ser para ambos os sexos) fazem falta. Por que não o artista? Enfim, todos fazem, nesse mundo. Em qualquer época, todos fomos, somos, seremos importantes. Ninguém é dispensável. Nem mesmo a classe polít…. aann, posso pensar um pouco mais?
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