No feriado do Dia do Trabalho, estamos de folgas forçadas há 45 dias. Aliás, os trabalhadores de modo geral, que estão de “férias” antecipadas ou situação semelhante perderam vários feriados, prolongados ou não, como Semana Santa, Tiradentes… Até brinco com os amigos e digo que tudo não passou de um plano maquiavélico do Presidente da República, que odeia professores, fazer com que estes gozassem das férias nesse período e trabalhassem em julho, quando não há nenhum feriado nacional. Risos. Claro que é uma piada, assim como cômicas são as versões de que essa situação toda foi criada por “esquerdistas” para prejudicar a imagem (já horrorosa) do (des)mandatário da nação. Só para vocês verem como toda notícia plantada nasce da cabeça de um desocupado.
 
 
E como já falei em outra diacrônica recente sobre a importância e papel social de todas as profissões, permitam-me hoje dedicar-me especialmente a falar da agrura pela qual nós, professores, temos passado, nesta pandemia. Quero dizer, não poderei falar por todos, claro, apenas falarei por mim e por com quem se identificar com o texto. Na verdade, acho que esta diacrônica será mais um suicídio profissional que qualquer outra coisa. Todavia, esconder angústias atrás do silêncio nunca foi especialidade minha.
 
 
Não existe nada pior que ter de sair de uma zona de conforto. Há quem adore. Eu detesto. Nem todo mundo nasceu para ser um Christopher McCandless, de “Na natureza selvagem”. E não estou falando de conforto financeiro, mas de hábitos, costumes. A mim interessa mudar, e muito, o que está dando errado, não o que está dando certo. Não tenho ambições gigantescas, não sou desbravador, não vim para mudar o mundo. Quero fazer aquilo que me propus a fazer de forma bem-feita, digna e que me exija aquilo que estou acostumado a ser cobrado.
 
Portanto, ser professor, meu sonho desde criança, é uma missão já árdua o bastante, mas paralelamente prazerosa, a ponto de me deixar, a um tempo, feliz, ansioso, indignado e realizado, se é que me entendem. Quisera eu ser um criativo e sensível Mr. Keating, do filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (esse, sim, meu ponto no magistério a ser alcançado, um dia). Ou mesmo um superdotado Charles Xavier, cheio de poderes. Contudo, estou satisfeito por ser um bom professor, apesar das inúmeras falhas.
 
Porém, é doloroso constatar, no Dia do Trabalho, que teremos que virar técnicos de informática, videomakers, youtubers (sem diminuir a importância da atividade de nenhum deles), e que teremos nossa exposição e críticas triplicadas, por famílias e outras pessoas que verão nossas aulas. E esse é um problema para muitos da classe, porque questões de timidez, mesmo. Já meu drama é outro: tecnologia. Eu não domino praticamente nada. E tenho bloqueio, criei uma coisa em minha cabeça de “Não quero isso para mim”, “Não quero dar aula assim”, “ Não é uma metodologia que me agrade”. Resumindo: terei de fazer, claro, mas pressionado pelo dobro de dificuldade. Como diz uma música do Biquini Cavadão, sou “O idiota eletrônico”.
 
 
Enfim, não é fácil. Aprender algo totalmente diferente, numa área que você não domina e nunca se interessou em dominar é cruel. Contudo, é mais um desafio que a profissão me impôs, depois de 32 anos de carreira. Se queria? Confesso: nem um pouco. Estou odiando. Se vou me esforçar ao máximo para fazer, da maneira “menos ruim” possível? Sim. Não porque eu queira me provar nada. É porque aqueles que menos têm culpa, meus alunos, merecem meu melhor. Eles não podem ser penalizados em seu conhecimento por minha incompetência digital.
 
 
Talvez eu não seja um professor Heliseu, de “O professor”, de Cristóvão Tezza. Nem de longe. Nem os outros citados neste texto. Contudo, tenho certeza de que meu trabalho, ainda que muito complicado (e, agora, cada vez mais), trará frutos, algum dia. Aliás, aproveito o assunto “dificuldade” para avisar a meus leitores que as diacrônicas continuarão todos os dias, enquanto durar o isolamento social. Porém, por causa dos compromissos escolares, passam a ter horário indeterminado. Nem sempre serão pela manhã, como vinham sendo. Serão produzidas e publicadas agora na brecha de tempo possível para este novo escravo da tecnologia de ensino virtual. E que venha logo a Canaã da sala de aula comum!!
 
Finalmente, parabéns a todos os trabalhadores e trabalhadoras de uma nação que praticamente só privilegia quem comanda, e não quem realmente põe a mão na massa. Que o digam as reformas trabalhista e previdenciária…

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