Sou um velho, sim, sou um velho formal.
Velho na comunicação, minha língua é velha.
Velha como velho é um arcaísmo,
Velho como velhos são os meus costumes
De bem-querer, de respeitar, de gostar de te gostar.
Língua velha como uma peça shakespeariana.
Uma comédia, uma tragédia, uma história de amor.
Eu sou um velho bobo, bobo da corte,
Abobalhado pela tua figura perfeita e tão contrafeita.
Teu bobo, teu “clown” shakespeariano de poética bandeiriana,
Tua poética desfeita no verso moderno que se rende ao passado.
Língua velha como uma vitrola.
Como a agulha percorrendo os sulcos.
Quisera fossem os seus, oh lindo e sonoro vinil,
Sulcos que entoariam cantos gemidos maviosos de prazer e loucura
Ante minha passagem pelas fascinantes nuances e reentrâncias de teu corpo.
Velha inda como um fogão a lenha,
Apto a te incendiar, a te ser lenha, calor e aconchego.
Só preciso de brasa, de tua chama firme e constante.
Me chama…e eu queimo.
Me chama… e te queimo.
Me chama… que nossa chama
Incendiará nosso reino.
Minha língua é velha como um telefone fixo.
Ah, quem dera me quisesses fixo!
Fixo em ti, fixo em teu coração, fixo em tua alma.
Se me quiseres fixo, eu fico.
E quanto mais fico,
Mais te quero com desejo apaixonadamente fixo… e prolixo.
Afixo, posso ser teu prefixo ou sufixo, não me importa.
Se me queres fixo, beijo o derradeiro crucifixo,
Porque minha religião é morta,
Minha língua pode parecer morta,
Mas não é morta essa paixão que reconforta.
Língua velha como uma máquina de escrever,
Na qual datilografaria todas as tuas teclas, páginas,
Anotações de meu bem querer, de meu te querer,
De teu bem-me-quer, malmequer,
Algo, aliás, tão velho quanto eu e minha língua,
Que resiste, nunca míngua.
Se mal não me queres, bem me queiras,
E não me julgas mal, que tudo o que quero
É te dar um bem: amor sincero.
Velha língua resistente, como resistem
Os sentimentos puros, que derrubam muros.
Os carinhos sinceros, que ensejam esmeros,
Os desejos de meus poros, que te são sonoros.
Sim, minha língua é velha, eu sou velho.
Mas o sentimento é novo, é bobo, é tolo,
É consolo, e tem sobretudo, dolo.
Nada de culpa, nada de ingênuo,
Doloso e sem culpa como um amante estrênuo,
Que não tem mais vergonha em te confessar
Que sou velho, mas creia, ainda sei
E posso te fazer voltar a saber amar.
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