Vivemos tempos absurdos, em que o desequilíbrio parece ser a única solução para resolver os problemas milenares da humanidade. Há uma febre convulsa e crescente de necessidade de consertar os erros a partir de radicalismos e (re)inversões de valores. Ou seja, o que está falho agora deve ser consertado com um erro diametralmente oposto, para fazer “compensações”. Nenhum tipo de serenidade, de análise racional, de atitude equilibrada.

 

Vejamos. Segundo a nova lógica da humanidade, é assim que a coisa funciona (nos parênteses, o equilíbrio que ninguém parece querer ter):

 

– Como punir um assassino? Com sua morte. (Como se a Lei de Talião fosse boa)

 

– Como punir um espancador? Com espancamento até o aleijamento. (Como se espancar diminuísse nossa dor)

 

– Como evitar a corrupção? Trazendo de volta governos e ideologias igualmente corruptas, porque “não há opção”. (Como se não tivéssemos conhecimento de história e não fôssemos capazes de criar uma opção)

 

– Como consertar os erros da democracia? Promovendo campanhas por ditaduras (Como se elas fossem melhores)

 

– Como descaracterizar aquela linha política da qual não gostamos? Mentindo, criando factoides, fazendo suposições descontextualizadas de que “nos tempos tais tudo era melhor”. (Como se houvesse alguma política realmente boa, que não fosse a PAZ entre os homens, independentemente de qualquer linha)

 

– Como combater o liberalismo excessivo dos tempos atuais? Voltando à censura. (Como se mostrar outras opções para o povo, a fim de que eles NATURALMENTE mudem de canal, estação ou simplesmente não compareçam a eventos dessa natureza não fosse a mais saudável e definitiva forma de resolver com isso)

 

– Como defender sua crença, fé, ou a ausência dela? Ridicularizando e abominando as pessoas que pensam diferente ou impondo seu pensamento aos berros, insistências ou pela mídia. (Como se a fé – ou a falta dela – não fosse algo privado, individual, e que precisasse da aprovação dos outros)

 

– Como acabar com o machismo? Sendo feminista. (Como se um extremo fosse melhor que o outro)

 

– Como reclamar sobre a traição amorosa? Traindo primeiro, antes que aquele cachorro, porco chauvinista, estúpido, o faça. (Como se isso não fosse desculpa para os próprios desejos instintivos)

 

– Como exigir que os homossexuais sejam respeitados? Afrontando os outros com algo que eles não querem ver, só para “demarcar território” e provar que “o mundo é gay”. (Como se as pessoas precisassem de “lições de moral” para aprender a respeitar a sexualidade alheia – precisam é de educação!)

 

– Como diminuir a segregação social e racial? Criando cotas para negros, índios, pobres, todas as minorias, a fim de “compensar” os anos de escravidão, exploração e miséria. (Como se corrigir a disparidade dos ensinos públicos e privados não fosse a solução)

 

– Como combater a miséria e a fome? Criando bolsas de todos os tipos para que o povo se sinta em dívida e, grato, vote de novo no “beneficiador” na próxima eleição (Como se o que a população não precisasse é de educação, emprego e oportunidade, para a diminuição da disparidade social)

 

– Como acabar com o problema do analfabetismo? Facilitando as coisas… aprovando todos que não sabem ler só “pelo comportamento”, colocando filmes dublados no lugar dos legendados… (Como se cobrar, exigir e educar não fossem o caminho)

 

– Como acabar com menores infratores? Mostrando que eles não são mais menores a partir de uma determinação de uma nova idade para se dizer quem é criança e quem não é. (Como se fosse a idade que o dissesse)

 

– Como combater a globalização exacerbada? Sendo bairrista. (Como se aproveitar tudo o que é bom dos dois lados não fosse possível)

 

– Como mostrar que amo meu time e minha terra? Desrespeitando e ridicularizando a escolha dos outros. (Como se alguém fosse obrigado a gostar do time da terra onde nasce… como se a paixão tivesse aulas de Geografia)

 

– Como mostrar que a violência deve ser combatida? Sendo violento contra quem é violento. (Como se a guerra fosse justificada por uma guerra)

 

– Como provar que a catástrofe que assola meu país é mais importante que a dos outros? Acusando os que se compadecem com esta de não lembrarem daquela. (Como se tragédias não fossem simplesmente, TRAGÉDIAS, onde quer que aconteçam, e todas não merecessem igual lamento)

 

– Como conviver num mundo tão difícil? Radicalizando, porque o processo é irreversível. (Como se não pudéssemos, EQUILIBRADAMENTE, dar um basta em todos os excessos de parte a parte)

 

 

Se você leu até aqui esse texto, considero-me um privilegiado. Afinal, nestes tempos em que as pessoas não gostam de ler nem outdoors, mesmo que você discorde comigo, já foi lucro. Se gostou, obrigado. Se não, aponte uma outra solução, EQUILIBRADA. Se não for pra ser assim, ignore-me solenemente ou critique por criticar. Faz parte da democracia.

 

Em tempo: se você leu até aqui, deve estar se perguntando… “E o trêbado citado no título?” Ora, é como os equilibrados têm de ficar, para aguentar tantas radicalidades nesse mundo de hoje… Ou então… escrever um texto como esse. Fui.

 

 

27 de novembro de 2015

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