Ela me disse uma vez
Que muito rebuscado eu era
E meu soneto apaixonado (por ela perdido)
Não encantava como um verso livre.
Então homenageio a ex-amada
Com um poema bem moderno, com versos bandeirianos longos e perdidos na rua das ilusões
(perdidas steinbeckianas,
Tirado das profundas do inferno
Em que meu paraíso se transformou.
Se eu perdi a chance, também ela a perdeu.
Perdeu a mão de quem lhe deu as duas e tudo mais que era seu.
Quase perco a cabeça e as estribeiras,
A motivação e esperança (já perdida quando pra ela perdi a graça).
Só não perdi a Vida, pois
Há muito aprendi que, por maiores que sejam as perdas (e os versos),
Quem não perde de vista a Arte, os Amigos e o Luar
Não perde tanto tempo proustiano que se julgava perdido.
Moderna e sem equilíbrio,
Perdeu o
Compasso
Com passo
O passo
Com paz, só.
E eu perdi o
Rumo,
Mas o
Rum, ó?
Não me perdeu…
E este poema que se perde em modernidade
Só não perdeu o sentido
Porque meu sorriso voltou sentido,
Ainda que ressentido,
Depois de se ver perdido.
E cá estou, perdidinho nessa balada modernista, atual e atuante como ela queria,
Perdendo a verve
A que não me serve
Para que o bardo hodierno berre
E o sonífero sonetista encerre
O suplício do fim do amor eterno quase imberbe
Para que o leitor não perca a paciência
Com este perdido na noite infinda
Permita-me que eu finalize, ainda
Meu moderno desfecho de clemência
Perdi a fome, perdi o sono, só não perdi peso
Mas livrou-se ela do peso que eu lhe causava
Agora, livre para voar alto, ela se perde no espaço
Enquanto o antiquado aqui perdeu-se no tempo.
Perdido meu caminho, mais uma vez sozinho,
Entre perdas e ganhos, resta a rima perdida…
Por mais que a indiferença a mim imposta seja dura,
Perdi tudo, só não a compostura
E a vontade de que uma mulher, nova ou madura,
Com coração, mente e alma puras,
Faça eu me perder de amor na noite escura
Durante palavras que o desejo sussurra
Numa eternidade banhada de ternura.
02 de março de 2016
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