18 de abril de 2016
Aviso logo a todos que não comentarei suas respostas, de um lado ou de outro. Não tenho mais paciência para ser chamado de qualquer coisa, sob justificativas pessoais, sem embasamento histórico ou político. Sem VIVÊNCIA, principalmente. Portanto, deixo isto apenas como um registro de meu posicionamento. Esperneiem, tripudiem, provoquem-me, se quiserem. Perderão seu tempo. Isso, claro, se tiverem disposição para ler até o fim, pois a leitura rápida e fácil, sem critério, parece ser o tom da moda por toda parte.
Ao contrário do que muitos pensam, não sou petista. Desaprovo o governo Dilma tanto quanto qualquer um e desejo que Lula pague por seus crimes de improbidade financeira e crimes lesa-pátrios, se/quando comprovados, como desejei que Fernando Henrique o fosse (ops, julgaram, ao menos?). Mas fui e sou contra o impeachment, por entender que não há candidatos que representem o povo disponíveis para o cargo.
Ao contrário de muitos, lembro-me bem de todos os meus votos para presidente… Roberto Freire na primeira eleição de que participei (esse, sim, a minha maior decepção, ao se tornar um direitista escancarado e covarde, antes um bom político tendente à esquerda), depois partidos como PSTU, PCO e outros de linha mais radical, sempre no primeiro turno. E no segundo, votava em Lula, por falta de opção e por ser parte do único partido com projetos sociais (até então) convincentes. Ou, como nas últimas três eleições, votava simplesmente contra o PSDB. Mas eu já sabia que o PT seria desmascarado, pois quem faz acordo com o FMI na época de sua primeira consagração (jamais me esquecerei da cena com Lula, Ciro, Garotinho e Serra fechando acordo com o FMI antes das disputas de Lula para seu primeira eleição vitoriosa) não pode governar para o povo, plenamente. Especialmente se fechar bases com o PMDB e outros “partidos-prostitutas”, que se vendem para quem estiver no poder. Nessa época, assim como os que realmente criam no PT como sendo de esquerda e dos trabalhadores, “migrei” para o PSOL, em quem voto até hoje, salvo se o PSDB estiver em lado oposto no segundo turno. Nesse sentido, o PT não me decepcionou, pois eu JÁ SABIA que isso aconteceria, cedo ou tarde. Quem vende o partido e a ideologia se corrompe, a corrupção pessoal não tardaria. Daí hoje poder afirmar sem medo que o PT deixou de ser esquerda nos campos político e econômico há muito, como eu sempre disse aos mais chegados.
Ao contrário da maioria, que pratica o oba-oba político na base do “não importa quem entra, mas quem sai”, eu vejo com muita preocupação quem pode assumir o poder, quando Dilma perder seu cargo. O PT foi um governo desgraçadamente decepcionante para seus eleitores, e até para mim, que vi avanços sociais significativos se imiscuírem a práticas de corrupção dignas de seus antecessores e tão criticadas por Lula e companhia. Mas a temeridade maior (perdão pelo trocadilho) de ver o Brasil retornar às mãos do PSDB ou de defensores do que há de mais conservador, retrógrado e elitista no país me fez admitir que toda a corrupção (que nunca foi novidade nesse país) é preferível à política de manutenção do status quo elitista do país ardorosamente defendida em discursos de detratores do governo petista.
Ao contrário da maioria, eu não considero “golpe” a manobra política de ontem, pois o impeachment está nos princípios legais da constituição, por motivos (alguns) que podem ser imputados a Dilma Roussef. Mas é inegável que a manobra foi imoral, tendo em vista que o que estava em questão para os que votaram a favor do processo não era a procura por caçar corruptos, mas sim o PT. E por questões ideológicas ou pessoais. Nada existe de digno ou correto ali. Um movimento liderado pela FIESP, Globo, oligarquias agrárias e movimentos religiosos radicais (nem todos o são) não pode ser considerado como favorável ao povo, mas apenas aos próprios interesses. Prova disso foi a quantidade de discursos em voz pessoal (MINHA família, MEUS filhos, MEU Deus), em tom deliberadamente semelhante ao de um palanque (houve um que teve a cara de pau de levar o filho à tiracolo, com o nítido intuito de “apresentá-lo” para a próxima eleição de sua região – querem apostar?). Mas o pior de tudo é ver que muita gente boa, que realmente se indignou com seriedade, que queria mudanças positivas, foi LUDIBRIADA e acredita que esses senhores têm moral para derrubar um governo e pedir por lisura de conduta, seja política, seja financeira, administrativa ou de valores. A começar pela comissão que conduziu o processo, em pelo menos 50 por cento composta por políticos que sequer poderiam estar exercendo suas funções regulares, tamanha a lista de crimes que lhes cabe. Sem falar em boa parte dos votantes: defensores de tortura, estupro, homofobia, enriquecimento às custas do suor do trabalhador, indignação seletiva. Infelizmente, muitos jovens inexperientes e pessoas de mais idade, cujas vidas não foram muito afetadas nos tempos cruéis da ditadura, fermentados por alguns cidadãos de valor e uma maioria de raposas astutas e interesseiras, foram arrebatados numa comoção digna de um “Fora Collor” ou da própria eleição primordial de Lula. E arregimentam o discurso de ódio e conservadorismo da direita. Esperemos que, em breve, suas consciências apontem para o erro que se cometeu ontem – não o de injustiça com Dilma, que provavelmente tem, sim, culpa no cartório, pelo menos no quesito de “cumplicidade cega”, mas o de injustiça com o povo brasileiro, que será novamente vítima de uma política que dignifica a elite e a classe média (para que fique calada) em detrimento do pobre, do miserável, cujos pequenos avanços em Educação e Saúde (sim, pequenos e, por vezes, falhos, como o ENEM e o sistema de cotas) se perderão ou serão menosprezados em nome de uma política econômica selvagem, “compensada” com criação de subempregos acompanhados de desvalorização e até possível extinção de algumas leis que defendem o trabalhador, como a do décimo-terceiro e a do horário de descanso. Essa massa que, por ingenuidade ou ignorância, apoiam tal coisa, não merece ódio, mas pena. Ao contrário de seus líderes, mal-intencionados e maquiavélicos, que devem ser combatidos, doravante. Não com ódio, exatamente. Mas sem trégua.
Ao contrário do que muitos supõem, o PSOL não me decepcionou. Ao contrário, foi um dos poucos partidos coerentes com o que penso: não pertence às bases do governo, é de oposição (basta ver as posições e votações no Congresso), porém se posiciona contrário ao impeachment por, assim como eu, entender que um mal (muito!) maior se avizinhava. Mas meu único senão está em terem chamado a tramoia política de golpe, pelos motivos que já disse acima.
Ao contrário do que muitos pensam, não sou contra a pátria, as cores da bandeira, as igrejas, os proprietários de terras produtivas ou empresas que dignifiquem o trabalhador. Mas causa revolta ver um discurso conservador e reacionário, antipopular, se disfarçar atrás das cores de nossa amada nação ou usar o nome de Deus para propagar mentiras sobre as causas que lhes moveram a votar contra o povo brasileiro e a favor das elites e oligarquias, respaldados por incautos desavisados, estes, sim, legitimamente motivados pela revolta e angústia acerca do futuro. A verdadeira nação deve ser livre do jugo econômico, e do “julgo” moral e religioso. O amor ao próximo e ao bem-estar da coletividade deve estar acima dos interesses de seu grupo econômico, religião, convicções pessoais ou time de futebol (Quem lembra de Eurico Miranda como deputado sabe do que falo). Enquanto nosso país tiver “lobbies” que defendem planos de saúde e ensino privado, igrejas as mais variadas e setores anticristãos na agricultura, comércio e relações humanas, será uma vergonha continuar dizendo que se está fazendo algo “pelo futuro de meus filhos e de minha região”.
Ao contrário do que muitos supõem, não farei como a direita do nosso país fez nos últimos anos, ou como algum da esquerda farão daqui por diante: torcerei para estar totalmente errado, e que o futuro queime minha língua, provando que estou errado. Infelizmente, tenho certeza de que isso não acontecerá. Quem me respaldam são a vivência, a história, o conhecimento leigo, mas sentido na carne, da política de nosso país praticada pela direita econômica e social do nosso Brasil. Mas sei que o povo terá de passar, infeliz e provavelmente, por vários anos de sofrimento nas mãos dos reacionários e conservadores mais uma vez, para entenderem que a noite de ontem não foi de limpeza da corrupção, mas de sua substituição por um grupo igualmente corrupto e, ainda por cima, antipopular, egoísta, discriminatório e elitista. Deus queira que a ficha deles não demore a cair.
Obs. Ao contrário de muitos, eu espero que os que defendem a queda de Dilma e também de Cunha, Temer e companhia façam movimentos gigantescos, igualmente cheios de empenho e de ódio, contra esse grupo. Igualmente lotando as ruas, levando patos, coelhos, colibris ou rouxinóis. Se não fizerem do mesmo jeito, não me convencerão de que estavam em busca de moralidade. E isso não acontecerá, provavelmente. Sabem por quê? Porque quem deu suporte a essa campanha contra o (des)governo petista não tem interesse em derrubar mais ninguém. Sumirão as notícias de escândalo, sumirão as denúncias, podem sumir até processos e delações premiadas. A missão dos elitistas já foi cumprida. Eles não irão contra seus parceiros. Mas minha língua está aí pra ser queimada…
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