21 de abril de 2016
Eu vou fazer desta a minha última publicação sobre política por um tempo. Que me perdoem os admiradores nessa área (raros, mas fiéis), os companheiros da causa trabalhista e popular, os que gostam de minhas ironias e tentativa de posicionamento equilibrado, mas francamente em favor do povo e de uma sociedade justa e menos disparatada.
O problema é que às vezes é difícil ser assim. Estou cansado de ter minha opinião distorcida, ridicularizada ou vilipendiada. Estou, provavelmente, passando por um tempo de misantropia, afundado em meus livros, CDs, DVDs, filmes e séries. É muito complicado continuar amando a espécie humana com tamanha barbárie, egoísmo e falta de bom senso.
Tento dizer que vou até desenhar, mas poucos entendem (diga-se, sejam da esquerda ou, principalmente, da direita) o que sonho para uma sociedade civilizada: igualdade de condições. Uma utopia de mundo em que a disparidade social seja mínima, ainda que à custa do progresso, do conforto, das benesses de uma vida moderna, de uma economia estável, se necessário for. Não consigo conceber que alguém prefira uma sociedade desigual e farta. Mesmo a penúria de todos em nome da igualdade, para mim, é algo tão transparente e óbvio que dói ver alguém desdenhar o inquestionável. É óbvio que a igualdade total é impossível. Mas a necessidade de uma sociedade menos injusta e mais equilibrada passa por sacrifícios, renúncia, princípios.
Que voltemos ao escambo, se necessário for. Que retrocedamos à era das cavernas, tecnologicamente falando, desde que evoluamos enquanto seres humanos. Mas não… o ser humano não é capaz de abrir mão de nada, pois o próprio conforto e regalias são as únicas coisas que importam… Nenhum ser que REALMENTE viva os princípios cristãos ou de bondade (se cristão não for) pode acreditar que o modelo liberal de economia, baseado numa falsa meritocracia (porque esta não dá oportunidades iguais a todos, para que se destaquem por suas qualidades, sem que partam em vantagem econômica em relação aos demais) seja a solução para a convivência humana.
Enquanto não cortarmos na carne os lucros abusivos, enquanto não criarmos um método de distribuição de renda que penalize quem queira ser muito acima dos demais, não haverá paz nesse planeta. Enquanto só pensarmos no próprio umbigo e convicções individualistas, reacionárias e conservadoras, não haverá crescimento. O avanço econômico continuará sendo privilégio de poucos, e o emprego não será oportunidade, mas sobrevivência.
Prefiro mil vezes uma sociedade igualmente pobre à “liberdade de concorrência”, à economia liberal, aos preceitos conservadores ditando regras, normas, rótulos. Por outro lado, é duro ver pessoas que partem do mesmo princípio que eu radicalizando para o extremo oposto, sob pretexto de revanche. Não é através de ódio que melhoraremos as coisas. Não é nos igualando aos que nos repudiam que lhes abriremos os olhos. Cusparadas, provocações sem sentido (porque as com sentido e pacíficas são válidas, sim!!) são tudo o que “eles” querem para jogar na cara de quem é libertário a danosa contradição, contrassenso ou conformismo.
Precisamos de pessoas que sejam divulgadoras de uma ideia de mundo diferente do que aí está. Não só no dia a dia, mas na História. E muitas, pois nadar contra a maré do lugar comum entre conservadorismo e piração é difícil. Ser libertário sem ter medo de ser taxado de utópico ou babaca é complicado. As pessoas julgam de toda parte: os conservadores te acham perigoso – porque o equilíbrio e a utopia amedrontam – e os revolucionários te acham alguém que enfraquece a luta mais extrema.
Não quero ditadura do proletariado, não quero capitalismo selvagem. Não quero Lênin, não quero Adam Smith. Não quero Cuba, não quero Estados Unidos. Quero uma terceira opção, um socialismo humanitário, com lucro controlado pelo bom senso da sociedade, mas administrado pelo governo e com todos tendo chance de crescerem proporcionalmente, mas partindo de chances iguais. Aí, sim, meritocracia. Com um único limite: o bem comum. Enquanto houver um ser humano com fome e outro nadando em dinheiro, a classe média é uma afronta. Todos na classe média, sem exceção!! Que mundo lindo seria. E, acredito, ele é possível. Desde que haja um governo que pense assim, e uma sociedade disposta a colaborar, a abrir mão. Se fosse necessário eu deixar de ter as poucas regalias que tenho em nome de um futuro minimamente semelhante para todos, eu cederia com satisfação. Por mais pessoas assim, eis meu sonho.
Enquanto as pessoas não perceberem isso, viveremos nessa guerrinha eterna. Parece tão óbvio ser contra ditaduras (de esquerda ou direita), atitudes reacionárias e falta de amor ao próximo, que é chato tentar explicar todo tempo. É chato lidar com gente que só pensa de um jeito, ainda por cima se esse jeito é preconceituoso, capitalista e unilateral. Estou cansado de tentar mostrar que o caminho utópico é possível, se todos rumarem do mesmo jeito, combatendo o natural egoísmo que reveste a raça humana.
E o preconceito vem na cola. Parece que não basta você acreditar no que é melhor para você. Tem de fazer todo mundo pensar igual: o mundo inteiro tem de pensar como você: Hetero, homo, bi, assexuado, católico, evangélico, ateu. Ninguém é bom o suficiente se não pensar como você pensa. Cansado de tentar dialogar com pessoas que não vivem, simplesmente, sem se importar com o que os outros fazem, sem a educação e o limite do respeito ao próximo, com uma simples atitude: aceitação. E se não for possível, tolerância. Só isso. O mundo seria bem melhor.
E é em nome desse respeito ao jeito de cada um ser que me despeço temporariamente das postagens políticas entrando na vibe da crítica à revista Veja, que agora quer incutir (e não digam que não é proposital) um “modelo” de mulher… Bela, recatada e do lar… Em solidariedade a todas as amigas que não querem ser isso (e até às que querem, porque agora serão vistas como “Amélias” por feministas exageradas), eu me coloco como “Belo, recatado e do lar”… Ou não…
Até a próxima. Não tão breve. Se eu aguentar.
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