Domingo. Ou será feriado de novo? E importa? A noção do tempo parece estar meio perdida para nós, numa quarentena. Não tem dia de trabalhar, de descansar, de ir ao barzinho, ao shopping (pra quem gosta), à praia ensolarada (pra quem é masoquista). O que nos salva de termos de bancar Robinsons Crusoés e criarmos um calendário alternativo nesse naufrágio da vida social é a coleta de lixo (que, heroicamente, continua) e a programação da TV (bem que poderiam acabar com o Faustão e congêneres, nesse período – já seria um legado desse Coronavírus).
 
 
Resolvi começar minha diacrônica de hoje tentando fazer meu leitor sorrir. Consegui? Ainda não? Permitam-me mais uma tentativa. Essa, anterior ao confinamento, preciso contar: no domingo passado, logo antes do caos, fui almoçar numa padaria próxima à minha casa. Assim que fiz meu prato e esvaziei os objetos dos bolsos para ficar mais à vontade, meu velho pigarro, fruto do vício pelo tabaco, ativou uma tosse. Pequena, mas suficiente para ser ouvida pelas mesas vizinhas. Automaticamente, todos congelaram seus talheres e viraram-se para mim, com olhos esbugalhados. De maneira tímida, porém célere, peguei minha cigarreira que jazia ao lado de meu almoço e falei: “´Desculpem, foi um pigarro, sou fumante”. Juro que JAMAIS vi pessoas ficarem tão ALIVIADAS com essa informação – risos. Imediatamente percebi olhares e suspiros de recuperação da calma, e meus companheiros – no sentido morfológico da expressão – voltaram a seus pratos. Sorri e também me alimentei.
 
 
Voltando a este domingo, depois de ver mais um episódio de The Walking Dead (única série que acompanho semana a semana), passei pela formação do paredão do Big Brother. Não, não serei um intelectual hipócrita de dizer que só comecei a ver por conta de estar confinado em casa. Este ano eu assisto desde, sei lá, a terceira ou quarta semana. Fazia muito que não acompanhava, pois estava achando monótono e repetitivo. Este ano está… razoável. E aí fiz a mais que óbvia associação de que eles estão mais seguros que nós e, mais que nunca, lutar pra continuar na casa é questão de sobrevivência – muitos já devem ter pensado isso, só quis registrar. Lembrei mesmo foi do romance distópico de George Orwell, “1984”, cujo vilão invisível dá nome e inspiração ao programa – por sinal, a autoria original do livro sempre é “esquecida” nos créditos da Globosta. A vigília prevista em 1948 pelo genial romancista britânico acabou sendo de dentro pra fora, e não de fora para dentro. Nós é que devemos nos vigiar, em nossas casas.
 
 
Pronto. Um perfeito resumo do dia de ontem: zumbis se autovigiando de dentro para fora. Inclusive para não enlouquecerem. Ajudem seus amigos e conhecidos. Seja realista, mas não aumente o pânico. Também não diga que está tudo bem, que Deus resolve tudo. Não iluda, nem destrua. Apoie moralmente. Porque o Coronavírus, por incrível que pareça, não é a única doença a ser combatida. Tem mentes se deteriorando.
 
 
Fiquem em casa. Fiquem bem. Façam o bem. Até amanhã.

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