Darwin enlouqueceria, nos dias de hoje. As espécies humanas não são mais só uma e estão cada vez mais díspares, não dá mais pra dizer que todas vieram de uma mesma origem. O homo sapiens anda até em falta, ultimamente, e outras espécies e origens estão se mostrando, o que deixa a nossa “fauna humana” gradual e geometricamente multifacetada e degradante.

                Surgido nos anos 90, o homo tecnicus se caracteriza por sempre andar de cabeça baixa, pelo hábito de ficar mexendo ao celular.  Embora sua capacidade de armazenar informações aparente ser ilimitada, a qualidade e utilização de seus dados mentais comprova uma inferioridade na escala evolutiva, a despeito de tantos recursos tecnológicos.

               Parente correlato do homo tecnicus, o homo stricto é um ser de cérebro diminuto que não consegue depreender textos maiores que duas linhas ou, mesmo quando não possui qualquer síndrome, não tem disposição para ler um filme legendado. Seu traço marcante é zombar do que ele chama “textões”. No fundo, ele usa do deboche como uma camuflagem contra sua incompetência e/ou preguiça. Esse processo involutivo muitas vezes é detectado nas aulas de português da sua fase adolescente, quando o homo stricto levanta a mão para perguntar: “Professora, esse livro tem em filme”?

               Falando em cultura, um tipinho irritante é o homo loquitur, que se acha no direito de dar spoilers de tudo que vê ou lê. Fala pelos cotovelos, é um verdadeiro locutor chato que, se percebe que seu ouvinte não gosta de gente estraga-prazer, aí é que se inflama, enche o peito, solta a maldita língua e diz tudo o que não deve ser revelado. Extremistas perigosos dessa espécie chegam ao cúmulo de ir a um filme mais de uma vez para ficar gritando o que vai acontecer na cena seguinte, atingindo centenas de vítimas incautas.

               O homo ostentatio é reconhecido pelo porte arrogante e pelo tipo de música que lhe encanta: o funk. Machista, atrevido e pornográfico, consegue se mostrar insuportável com suas canções repetitivas e sua pose de maioral. Uma derivação dessa espécie é o homo sonus, que ouve músicas (geralmente, de gosto questionável) em potentíssimos paredões de som, obrigando a todos que escutem aquilo que ele deseja, onde quer que seja. Teóricos afirmam que essa prática está associada a uma frustração por jamais conseguir se tornar homo erectus.

               Outro chato de galocha é o homo vindex. Embora muito bem intencionado e defensor de causas justíssimas, ele é um revanchista. Quer consertar os erros da humanidade com vinganças tão extremistas quanto as ações que lhe causaram mal. Ele pode ser encontrado com facilidade em redes sociais, usando expressões como “lugar de fala”, “pronome neutro” e “sistema de cotas”. Suas intenções são tão radicais que a causa defendida, em vez de comover, passa a irritar os mais equilibrados.

               Agora, nenhuma espécie é mais nociva e prejudicial à sociedade que o homo bovinus. Normalmente essa espécie se reúne em bando, como gado, mugindo ofensivamente contra direitos humanos, minorias e democracia. Hipócritas por excelência, usam o nome de Deus em vão, pregam a defesa de um único modelo de família e colocam a pátria como desculpa para radicalizar suas opções políticas extremistas. Estão localizados principalmente nas regiões amazônica, pantaneira e dos pampas do Brasil. A origem do homo bovinus, muito provavelmente, vem dos esgotos da nação, onde estavam escondidos até que um ser abjeto saiu das profundezas do inferno, munido de um berrante, para comandá-los em uma onda de ódio, mentiras e negacionismo jamais vista no planeta.

               É, Darwin… sua obra ainda está incompleta. Sabe-se lá o que ainda virá por aí…

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