Dou com a mão

Pra subir…

 

 

As mãos deslizam pelo ar

Repetindo gestos de um baixista ou de um baterista

No ritmo raivoso que os fones reverberam aos ouvidos.

E os sorrisos zombeteiros e pensamentos de sandice não vejo

Por trás dos óculos escuros antigos

 

 

Não escuto o histórico do vendedor

Ou a história do trocador

Ou a homilia do pregador

Só a guitarra histérica no amplificador

 

 

E num coletivo comum, num dia comum,

Aceito que sou um comum incomum

Que vibra narcisisticamente com o jeito estranho de ser:

Minhas músicas, filmes de terror, histórias decadentistas,

A aparente contradição entre tradicional e moderno…

Literatura velha, películas antigas, pauleira outrora atual.

 

 

Aceito ser o professor que fuzila com o olhar

Que faz tremerem de ódio os que pouco o conhecem

Para no fim se renderem, ao menos, à devoção por ensinar…

À paixão pela palavra propagada pelos poetas e prosadores

De um mundo que na verdade nunca morreu

De tão humano que se esconde

Até bravos bardos o desbravarem

 

 

Aceito que deliro ao lidar com adolescentes…

Eles me dão a energia elétrica que me eleva o espírito

Enquanto erguem-se minhas eras em direção ao enterro do eu.

Tão velho-jovem eu sou!

Pedagogo do afeto e da cobrança

Sem método e sem fiança

Confiando nas andanças

De deixar de ser criança

Num mundo de lambanças

De relembranças

 

Sinal vermelho

Para parar e pensar

Na pureza perdida de um planeta proscrito.

A rebeldia roqueira não me permite calar

E o dublar que causa gargalhadas coletivas que ignoro

Se materializa no meu modo de reclamar.

Vermelho, cor da paixão por contestar

E o do time de futebol que me faz vibrar

 

Segue o coletivo e eu também sigo

Com rotas confusas

Altos e baixos nas ladeiras, lombadas e depressões da felicidade…

Com paradas não previstas…

Tudo e todos na condução sendo conduzidos

Para o mesmo ponto final.

 

 

Ainda não…

 

 

Dou com a mão pra descer

Ainda tenho muito a fazer

Muito a ler

Muito a ver

Muito a escrever

Muito rock a relembrar

Muita aula a lecionar

Muita gente a intrigar

Muita regra a infringir

Muita raiva a infligir

 

 

Desci pra subir… e sumir…

Mochila às costas

Óculos ao sol

Aceitação à mão

Rumo à próxima esquina da solidão…

Sem senão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Comentário do facebook