O vento trará aos teus ouvidos o som de minha voz e de minha paciência,
Assim como o cheiro de meu perfume misturado ao do cigarro;
Tua boca sentirá o travo agridoce de minha língua cáustica,
Que tanto fala quanto enrijece dentro de tua tesuda boca tesa.
(A mesma língua que nos uniu
Portuguesa
De tantas incertezas
E belezas
Que nem
A Marselhesa,
Para onde fugiste
Na busca por leveza,
Me fez esquecer)
Tua pele sentirá o arrepio de minha lembrança roçada
No âmago acolhedor de tua reentrância rosada.
Teus olhos cerrarão em busca da resposta aos por quês.

Deitarás na relva de teu ser
E te espreguiçarás à procura de meus pés;
Virarás em busca de meu tronco curvo
E encontrarás um lençol pelo tempo amarelado.
Antes os sorrisos que invadiam o travesseiro,
Sentirás agora a dor do mundo inteiro
Por ninguém, dali em diante ou dantes,
Nunca ter tanto te amado.

Correrás pela floresta das recordações
E sentirás a liberdade que nos demos;
Os pássaros, mudos em suas canções,
A esperar que nós as entoemos,
Fugirão de tuas inquietações,
E só escutarás o ruflar de suas asas
Em sinal de barulhenta reprovação.

Nos teus córregos em curvas por onde deslizei
Recordarás que juntos corríamos ao mar da Tranquilidade,
Numa lua cheia de carinho e cumplicidade.
Toda chuva que de lá cair trará um dilúvio
De ribeirinha perplexidade
Diante de nosso aromático eflúvio
(De amor
De dor
De rancor
De dissabor
De torpor
E de novo do amor).

E ao encontrares tua trilha,
Ao saíres de tua ilha,
Pela lua que brilha,
Pela rua que maravilha,
Verás que foi um erro não viver
Que foi um erro escolher
Ter medo de ser feliz

Pois viver por um triz
Do jeito que sempre se quis
Sem pensar na morte meretriz
É tirar a grande sorte;
Não há sorriso que comporte
Um amor que não se comporte.
A maravilha de viver feliz é sorte…
Sorte que não se desperdiça
Viver é areia movediça
E não há justiça
Para quem não cobiça
A sorte maravilhosa de feliz viver
O sorriso de o amor escolher.

Agora que eu parti sem qualquer paixão;
Tu podes dizer com orgulho
Que tinhas a tua razão
Que a morte me levou sem fazer barulho
Ao teu coração –
Sim, tu poderás até dizê-lo
Baixinho, para tua própria atenção,
Com alívio pelo próprio zelo –
Mas na tua floresta arrulhos
Não voltarás a ouvir. Jamais.
A não ser os de um corvo triste demais
Que com minha voz te sussurrará,
Em períodos sazonais:

“Perdemos a chance de sermos felizes e imortais
Com um sentimento de pura fantasia
Neste mundo de friezas e falsidades boçais…
E agora, por tua covardia e teimosia…
A mim resta a morte por consorte
E a ti a certeza e crueldade de que
Nunca mais, nunca mais…!”

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