As várias manifestações sobre o dia das mães mais estranho dos últimos 100 anos foi o que se viu nas redes sociais, hoje. Houve fotos aos milhares, áudios de força e luz, vídeos produzidos por indivíduos e entidades (eu mesmo participei de dois), ou de gente fazendo serenata para a mãe debaixo da janela do apartamento. Todos encontraram seu jeito de homenagear as suas mães, mantendo, ou melhor, superando a distância.
 
Os que estão confinados com elas comemoraram essa possibilidade. Muitos que não tiveram a mesma sorte se lamentaram. Igualmente fizeram as mães em relação a seus filhos. Mesmo não sendo mãe, mas pai, chorei pela ausência de meus filhos. Já são 55 dias sem ver o meu garoto, 65 sem ver minha filha. Quanto a minhas mães, uma já está no céu. A outra, em Quixeré, dificilmente conseguiria abraçar, mesmo sem a doença. O que não me deixa mais reconfortado. E se é verdade, como dizem, que o amor das mães, por conta da gestação, é maior que o dos pais, nem quero imaginar o sofrimento delas, pois o meu já é de “bom tamanho”.
 
Todos amam suas mães, não importa muito se elas são meigas como Molly Weasley (“Harry Potter”, J.K. Rowling) ou chatas como a Sra. Bennet (“Orgulho e preconceito”, Jane Austen). Se carregam os filhos sob as asas, como a Sinhá Vitória (“Vidas secas”, Graciliano Ramos) ou se terminam como várias, sozinhas no ninho, com os filhos pelo mundo, como a Dona Lola (´”Éramos seis”, Maria José Dupré). Também não é fundamental se é uma Ana submissa (“Amor”, Clarice Lispector) ou guerreira, como a Ana Terra (“O tempo e o vento”, Érico Veríssimo). Qualquer mãe é um ser naturalmente admirável. Aliás, ainda com pequenos problemas que possam aparecer, toda família é maravilhosa.
 
Talvez o maior legado de ódio dessa pandemia seja o de separar essas famílias. Amaldiçoaremos o COVID-19 eternamente, pela dor da separação que nos tem feito passar. Não que não existissem parentes distantes fisicamente antes, mas sempre havia a possibilidade do almoço de domingo, da visita do fim de semana, daquela passadinha rápida após o expediente. E isso nos foi estripado de tal forma que nem Jack sonharia fazer.
 
 
Os dramas mais dolorosos são os de pessoas que perderam entes queridos, para o vírus ou não, e que não podem ter uma despedida decente, simplesmente porque não podem sair de suas casas. Se algum ser maligno pensou numa forma mais cruel de nos atirar na cara nossa fragilidade e insignificância, desconheço. Nem Dante nem Milton conseguiriam personificar um demônio tão maldito quanto este que nos impede mesmo de dar um último adeus a quem amamos.
 
 
Eu às vezes quero imaginar o que acontecerá quando tudo isso passar. Se a humanidade estará condenada a se manter distanciada por algum tempo, ainda. Se em algum momento poderemos ter a segurança de voltar a abraçar e beijar aqueles a quem devotamos afeto naturalmente, sem máscaras ou medo de contaminar e/ou sermos contaminados. A liberdade de amar voltará juntamente à de ir e vir?
 
Uma das perguntas mais realizadas entre todos as enquetes de qualquer rede social é: “qual será a primeira coisa que você fará quando tudo isso passar?” Eu, pelo menos, já sei: irei correndo abraçar e beijar meus filhos. Longa e carinhosamente. Até secar a fonte da saudade. Até eles pedirem para não os sufocar. Depois, quero sentar num bar, num café ou à beira-mar (eu sob uma barraca, claro), rodeado de amigos e celebrar a amizade. O próximo passo é viajar a Quixeré, ver minha mãe, irmãos, cunhados, sobrinhos e padrasto.
 
Finalmente, se possível, ir a algum local público com um cartaz de “Abraços grátis”, como já se viu em alguns lugares do mundo anteriormente, em dias comuns. Agora, mais que nunca, estes abraços serão especiais. Porque tenho absoluta certeza de que há muita gente que, como eu, está com abstinência deles…

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