Cirino (Visconde de Taunay), Procópio (Machado de Assis), Daniel Lowell (Robin Cook), Jivago (Boris Pasternak), Diana Prince (William Moulton Marston), Stephen Strange (Stan Lee). O que esses personagens têm em comum? São todos médicos ou enfermeiros (graduados ou ocasionais) em obras literárias e do universo dos quadrinhos. Para o bem ou para o mal, mostram o lado heroico e também o falho em seres humanos que decidiram entregar sua vida na nobilíssima missão de salvar outras. É a Arte mostrando o médico (e louco) que existe dentro de cada um.
 
O caminho “inverso” também ocorreu. Acadêmicos e doutores em Medicina se tornaram escritores famosos e, não raro, levaram para sua produção artística detalhes referentes a sua antiga profissão. A lista é extensa (e boa): Arthur Conan Doyle, Tchekov, Moacyr Scliar, Guimarães Rosa, Joaquim Manuel de Macedo, Robin Cook e por aí vai. Este último, então, tem uma série de títulos ligados à área que sacia qualquer pessoa ávida pelo assunto: “Marcador”, “Degeneração”, “Choque”, “Coma” (para mim, o melhor trabalho de Cook), “Vírus” (ops!), “Contágio” (ooooooops!).
 
Hoje é o dia mundial da enfermagem, em homenagem ao nascimento de Florence Nightingale. São 200 anos, justamente nesta data, em 2020. Essa enfermeira ítalo-britânica foi conhecida por seu trabalho lógico, simples, fazendo coisas muito básicas para aprimorar a qualidade do atendimento médico, como segurar lâmpadas para ajudar no tratamento do auxílio aos doentes. Escritora também, Florence se notabilizou por facilitar a leitura de instruções médicas para pessoas sem grandes recursos de léxico. Coisa aparentemente simples, mas que muitos ainda hoje ignoram, ao redigirem bulas de remédio, por exemplo. Resolvi estender a diacrônica em homenagem a toda a classe médica. Quando eu falar num, então, subentendam-se todos os demais, ligados à área.
 
Dia desses falei superficialmente da importância deles, quando fui defender os artistas, vocês talvez tenham lido. Hoje vim dizer que, neste momento, esses são os grandes heróis da humanidade, sempre lembrando: sem desmerecer as demais classes. Não raro lemos relatos de pessoas ligadas à saúde angustiadas, cansadas, com início de depressão e até (claro) contaminadas pelo vírus, por estarem na linha de frente da batalha contra a pandemia. Se nós, professores, nos acostumamos a ser chamados de “pais de todas as profissões”, os médicos, enfermeiros, agentes de saúde e técnicos da área são os anjos da guarda de todas as almas, inclusive a nossa. Não posso ser pai de nada se não estou vivo, certo?
 
Sem falar na quantidade de especialistas que serão necessários quando tudo isso terminar: nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, ortopedistas, psicopedagogos, endocrinologistas, terapeutas, massagistas… Eis algumas categorias direta ou indiretamente ligados à saúde física e mental que trabalharão dobrado, para recompor o corpo e a cabeça de quem está sofrendo horrores para se manter são durante estes dias de sedentarismo e estresse (ou pânico, mesmo).
 
Eu diria que aplausos todas as categorias merecem. Os especialistas de saúde merecem é aumento, pelo trabalho redobrado que têm feito. Eu, como professor, também tenho trabalhado muito mais e acho que mereceríamos uma boa compensação. Contudo, são os trabalhadores do bem-estar coletivo que estão garantindo a sobrevivência da maior parte da população. Se isso não for possível, que sejam homenageados grandemente, em escala nacional.
 
Afinal, eles estão brilhantemente fazendo jus a este trecho do juramento de Hipócrates: “Os deveres que o médico deve ter (…) para com a profissão são: a integridade de vida, a assistência aos doentes e o desprezo pela sua própria pessoa”. Parabéns, super-heróis da realidade! Em especial, àqueles para os quais tive a honra de colaborar minimamente na carreira, seja com a língua estrangeira, com o aprimoramento da escrita ou com a sensibilidade poética da Literatura.
 
 
PS: Para quem se interessou em Florence Nightingale, sugiro o filme “A história de Florence”, de 1985, com Jaclyn Smith e Timothy Dalton. O mais fiel entre os três que conheço.

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