Viver cansa. Sim, e muito. Quando se é jovem, tudo é muito tentador, empolgante, efusivo, estimulante. Depois de certa idade, só de pensar em ser intenso a gente já cansa. Mas não é apenas cansaço físico ou mental. É um cansaço visceral, das entranhas. Sonhar cansa, acreditar cansa, ter esperança cansa… explicar por que estamos cansados cansa o dobro. Mostrar que estarmos cansados não significa dizer que desistimos? Cansa o TRIPLO.

Quando cansamos, relaxamos naturalmente. O corpo, a mente, a alma. E isso, que deveria ser ótimo, aos olhos alheios é péssimo, por incrível que pareça. Porque todos esperam de nós é reação, altivez, envergadura moral, desconstrução.  Afinal, hoje todo mundo acredita que se você não pensa como eles, é inimigo.  Aí há gente que quer se justificar, ser entendido, ou, pior, aparece um desgraçado para te cobrar posicionamentos. Eu mesmo às vezes ainda tento fazer a vontade deles, com aqueles com quem me importo. Contudo, isso cansa. E imaginar como não aparentar cansaço, então… é exaustivo. Melhor deixar que pensem e falem mal a tentar se explicar. Cansa. Aliás, a sociedade cansa. Explicar o óbvio na política, nas artes, nos conceitos de intencionalidade, justiça, civilidade e bom senso, ah… tudo isso cansa demais.

O grande erro de todo mundo que nos aponta o dedo inquiridor e inquisidor é achar que inércia significa estagnação. Não. Eu sou um planeta, um cosmos particular. Giro em torno de mim mesmo, mas sem sair do lugar e, ao mesmo tempo, sem ser egoísta: não faço questão de um sol ou uma lua exclusivamente meus para eu girar em torno ou para girar em torno de mim. Ser inerte não é ser morto, nem isento. Apenas é uma forma de rejeitar o estresse de ter que mostrar algo que não se é e que, por vezes, nem se quer ser, mas que as pessoas esperam que você seja. Esse planeta que sou não é moribundo, só não sai de sua órbita pessoal. Porque cansa.

Chega uma hora na vida de pessoas de bom senso em que a gente cansa de cuidar, de buscar, de ser forte. Nessa hora, a gente quer ser procurado, desejado, amado, conquistado, buscado, fragilizado, acolhido e posto no colo pra levar cafuné até dormir… sem mover uma palha. Porque em certo momento da existência a gente não tem mais o que provar, o que mostrar de novo, o que reafirmar. Tudo isso cansa. É fatigante, é desnecessário. Eu sou isso aí, que todo mundo já viu e que se construiu até determinado ponto do processo de formação própria, ao longo dos anos. E se falta aquele alguém pra gente se mostrar, porque não nos conhece ainda, cansa procurar, também. Que venham e batam à minha porta, do nada, como se diz quando alguns zombam de nós, ao categórica e catedraticamente decretarem que a felicidade não bate à porta. Pois eu estou é esperando. Não vou mais atrás de seu ninguém. E nem me entrego de graça a quem não me desperta o mínimo de empatia física ou mental (preferencialmente, ambas). Isso cansa mais que esperar.

Cansa ir pra rua. Cansa arrumar-se, cuidar-se, exercitar-se (para isso, particularmente, sou cansado de nascença). E se o corpo não obedece mais plenamente a certos comandos, cansa explicar que o universo não gira em torno de seu chakra umbilical, depois da maturidade emocional e intelectual. Que companheirismo e soluções alternativas dão tesão maior: o de estar vivo e fazer o outro feliz. Jogos de sedução são os mais exaustivos de todos. São muito, muito, EXTREMAMENTE chatos. A gente quer paz e tranquilidade. Relações sólidas, se forem pra ser sólidas e “valeu, tchau”, se o interesse mútuo for pra isso.  Beijo, abraço, toque, lambida, que seja, se só dá pra ser até ali… Nada de negociações, debates, charminhos, procedimentos de conquista ou declarações irritantes como “ eu disse não querendo dizer sim (ou o contrário), você tinha obrigação de entender”, ai, como isso CANSA e me desaponta enormemente.

A gente é o que é, depois dos 50. Não tem esse papo “coach” de “reinventar-se”, “redescobrir-se”, “estar em evolução”, “não parar pra não atrofiar”. É tudo papo de psicólogo amador e barato, digital influencer/youtuber teen ou fanático religioso cristão.  Conversa mole. Não ir adiante, não buscar o novo não significa retroceder. É somente dizer: “já deu, parei aqui”. Nessa idade não mudamos; nem crescemos, nem regredimos. Estacionamos. E isso não é ruim, é só acomodação, mas no BOM sentido da palavra: descanso. Quem diz o contrário mente, é papo de autoajuda fajuta. Cansa-se de se mostrar novidade. A gente é o que é e pronto. E quem quiser que aceite. Se não aceita, sem problema, sem crítica, não é algo incomum não sermos aceitos. A grande sacada é nos aceitarmos que somos assim. E o desafio é nos impor para que nos respeitem por sermos assim. Mas eu não pretendo convencer quem me lê agora. Isso cansa.

O importante é entendermos que temos nossos defeitos e qualidades e que eles são reais, irreversíveis. Pelo menos, aquilo que nos é fundamental. Você abre mão de uma coisinha aqui e de outra ali, que não te fazem falta. Tudo o mais que lhe é peculiar é seu e acabou-se. Para o bem e para o mal. A gente só não tem preguiça e cansaço pra aquilo que a gente ama. No meu caso, escrever, ler, curtir meus filmes, livros, séries, músicas, DVDs, beber, fumar… Enfim, afundar-me nos meus vícios e virtudes e ser feliz. Quer? Vem! Não quer? Passa, pra eu não cansar!

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