Primeiro round: 15 anos – Deus Todo-Poderoso é um adversário campeão, tradicional; eu mal passo de um amador. Sou um Challenger sem ter tido direito a um aquecimento sequer com algum sparing. E igualmente sem treinador. No começo, um “clinch” com Deus, quando a ele me apegava e tinha religião, respondido com um cruzado de direita, com a morte do meu pai. Break, primeira contagem. No último segundo entre os 10, volto com fúria e deboche, mas desconcentrado. Perda por larga margem de pontos.

Segundo round: 20 anos – Começa logo com um cruzado de esquerda (perda da mãe), fiquei tonto. Agarrei-me às cordas. Sentado no “corner”, recebo um casamento como treinador. Ganho este round por muitos pontos, graças  ao nascimento da filha.

Terceiro round: 23 anos. Separação, luta franca, sem limites, esmurrando Deus sem dó: excessos, destempero, heresias assumidas, golpes pesados, mas que Ele parece nem sentir. Ao contrário, ri debochadamente do desafiador atordoado. Respiro no fim do round, com troca de treinador, pedindo tempo: outro casamento, o respiro só dura um curto período, treinador dispensado. Fim de round. Empatado.

Quarto round: 30 anos. Com novo treinador. Round longo, sem muitas trocas de socos. Lutadores se estudam. No fim deste momento do confronto, Deus vem com força. Sequência de golpes: Upper de direita (perda de filho), e upper de esquerda (doenças). Segunda contagem de tempo. Levo menos tempo para me recuperar do que no primeiro round. Respondo com o nascimento de outro filho e a dispensa do terceiro treinador. Round empatado, mais uma vez. Um pouco de shadow boxing e manejo de pernas antes de ir para o próximo momento do embate.

Quinto round: 46 anos. Golpes baixos de Deus, abaixo da cintura. Aos 51, morte da filha. Stop. Punição a Deus, mas sem eliminação. Eu sou o próprio cut man e tenho trabalho para limpar as feridas. Viro lutador de MMA. Revido a Deus com todo ódio possível. Ele rebate e o round fica indefinido. O sangue é tanto saindo de meus supercílios, que não consigo mais enxergar ninguém. Não sei se aplaudem, vibram, vaiam, se ainda torcem. Só sei que aposento depois dessa luta, se sobreviver ao cruel oponente e sua contínua tentativa de me levar a nocaute.

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