29 de julho de 2012

Sei que este é o tipo de texto que será criticado, lamentado etc. Sei que muitos quererão (e se não o fizerem, será só por esta introdução) dar bons conselhos e que os menos inspirados copiarão frases de autoajuda ou de autores otimistas, pra “levantar a autoestima”. Mas nem percam seu tempo. Aqui não se trata de lamento, mas de constatação pura e simples. Portanto, se for comentar, agradeço. Mas não me digam o óbvio, nem de se pensar, nem de se cordialmente dizer. Prefiro o silêncio a essas formalidades fraternais.

Cansei. Cansei de esperar alguém para me fazer feliz. Não procuro mais. Não que vá me fechar a experiências, mas ter esperanças, não mais. Nenhuma empolgação. Nenhum “talvez, se ela conseguir ajeitar só isso aqui, ok”. Não, nada disso. A sensação que tenho é de que meus livros, CDs e DVDs serão meus companheiros ao final da vida. Nada contra, muito pelo contrário, mas infelizmente os acordes de guitarra, os seios da vítima da mutilação nos filmes e nem as linhas dos livros se deitam comigo para carícias. Até perco o sono por eles, às vezes, tal qual por uma bela mulher. Mas a comparação acaba por aí. Porém, paradoxalmente,  não tenho nenhum problema em levar para o leito o espírito de Janis Joplin, Emily Dickinson ou Sarah Michelle Gellar comigo. Gosto de me cercar de Arte.

É  que o medo de ficar só, que antes me impulsionava na busca por alguém, está morrendo. E aí vira uma bola de neve. Torno-me mais chato porque me fecho mais? Desperto menos interesse porque me torno mais chato? Ou quando me fecho, menos gente me vê? Nem sei, nem quero saber mais. Estou encontrando prazer na arte, na companhia de sentimentos artísticos tão díspares como os de Marcelo Nova, Udo Diskscneider, Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Neil Gaiman, Tim Burton ou Wes Craven, entre milhares de outros. Tanto faz. Nesse ponto não sou monogâmico. Adoro ser o sultão de um harém de ideias. Desde que eles me acariciem o ego insaciável do amor pela Arte, o toque feminino é algo desejado, mas não indispensável.

Se eu queria ainda ter tal toque nas noites solitárias? Claro… As delícias da carne também são fonte de prazer indescritível. Mas… TAMBÉM. E é isso o que me deixa preocupado. Não tenho mais pavor à ideia de morrer só. Não queria, é certo. Mas se for o caso… Paciência. E o problema dessa paz de espírito (ou conformismo? – Talvez uma leve ao outro…) é que eu me torno mais incógnita, mais impenetrável, mais esdrúxulo a olhos que por acaso cogitem despertar por mim algo mais que admiração intelectual. Acho que não conseguirei mais causar muito impacto além disso. E nem sei se quero que me gostem do corpo, sorriso, saúde, status, conta bancária ou educação antes de gostarem de meu cérebro. E me desleixo nessas coisas. Pronto, tornei-me um personagem sem história. De repente, lembro-me de uma reportagem de muito tempo atrás, em que vi Zélia Gattai dizer que o que fez ela amar Jorge Amado foi seu cérebro, não sua beleza, fama ou dinheiro. Que ela se contentava em ficar ao lado dele, vendo-o trabalhar… escrever. E me ocorre que invejo o baiano. Mas a possibilidade de não ter minha “gata Gattai” é-me não mais um pesadelo. Só um sonho ruim, daqueles em que você abre os olhos, vai ao banheiro, lava o rosto, olha-se no espelho, toma um gole de qualquer coisa e volta a dormir. Com ou sem sono. É como tenho vivido agora.

Queria uma mulher que não me pedisse qualquer mudança. Que me quisesse assim, desse jeito, roqueiro, metido a escritor, rebelde, efervescente intelectual (embora também capaz de produzir muitas asneiras e bizarrices), questionador, irônico. Esse meu jeito fiel e verdadeiro, sem rodeios, sem joguinhos, charminhos ou chantagens emocionais baratas. Meu modo quente e ao mesmo tempo egoico de amar. Um cara que ama ver o prazer da outra, mas que espera, sim, receber também. E cobra. Suavemente, mas cobra. Seria legal uma mulher que fosse comigo aos shows das bandas que gosto, mas que se não quisesse ir sinceramente não se importasse, porque simplesmente confia em mim. E sabe que vou a shows para ver música, e não em busca de aventuras fáceis com mulheres mais fáceis ainda – embora posem de difíceis.

Mas… essa mulher existe? Ela está por aí? Como diria Bruno Gouveia: “Você existe, eu sei”? É, pode até ser que ela exista. Mas eu não vou mais procurá-la. E nem sair perguntando. Se não vier, não era pra vir. Tenho a mim e a meu harém de cultura. Ela que se apresente. Como diria um outro gênio musical, este britânico, “I won’t play it if you don’t play it first” (Robert Smith).

Let’s go to bed.

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