Trilha sonora para esta diacrônica: “The End” (The Doors). Sim, meus caros. Esta será a última delas. Não atingirão o propósito inicial de só serem encerradas com o fim da pandemia, como também não duraram apenas uma “quinzetena”, como eu desejava. Nesta crônica de despedida, gostaria de pontuar algumas coisas. Primeiro, os motivos pelos quais termino aqui este processo.
 
Como quase todo aquele que escreve, sou um metódico. Eu me propus a escrever diariamente, e assim o fiz, mesmo que não tivesse nada a dizer, como os que me acompanharam desde o princípio viram, em duas ou três ocasiões. Sentia que isso seria cada vez mais frequente, por falta de tempo, inspiração ou paciência, mesmo. Como falei em uma das vezes em que escrevi sobre isso, corria o risco de produzir algo muito irregular.
 
O maior “vilão” de todos, foi, sem dúvida, o tempo escasso. Aproveito aqui para deixar um pedido para leitores do futuro: tentem não massacrar professores, no caso miserável de termos outra pandemia desgraçada dessas, eventualmente. Com essas aulas em vídeo estamos trabalhando e sendo cobrados três vezes mais e sob um discurso quase assediador (não de todas, diga-se, mas de muitas instituições de ensino) de que isso é para manter nossos alunos, salários, empregos. Essa política de videoaulas está acabando conosco e com nosso prazer de ensinar, porque há muito mais formações e burocracia desnecessária que aula propriamente dita. Sem falar no estresse de se aprender a toque de caixa algo com que nunca se trabalhou. Por favor, inventem qualquer outra forma de resolver o problema. Essa pode até funcionar para a escola, para os pais, para os alunos. A nós, professores, porém, ela só está matando, literalmente, as vocações e a resistência física. Por vezes sentava para escrever meu texto do dia exausto, depois de horas de aulas, planejamentos, treinamentos. Não dá para prosseguir produzindo com essa rotina por muito mais tempo.
 
Portanto, outra razão é por conta da dificuldade cada vez maior para manter o ritmo diário. A possibilidade de começar a falhar ou de começar a inventar artifícios cada vez mais bobos e frequentes (e menos criativos) para cumprir aquilo a que me impus avançava metro a metro, como o exército brasileiro sobre Canudos, do jeitinho que Euclides da Cunha narrou em “Os sertões”: palmo a palmo. Eu poderia acabar por não ter um fim para a obra, como já aconteceu com Kafka (“O desaparecido”) ou Jack London (“The assassination Bureau, Ltd”). Não, eles não morreram antes de publicar. Eles simplesmente desistiram de criar um final e a obra nunca vingou! Antes que tal coisa me ocorresse, eu precisava de uma última diacrônica, para encerramento. E sessenta é um número bonitinho, redondo, risos.
 
 
Ainda há o aspecto mais racional e prático de todos. Já que as diacrônicas, embora desde o começo este não fosse meu desejo – sempre gosto de lembrar – devem virar livro mesmo, um dia, e este COVID não parece nem um pouco disposto a nos deixar tão cedo, temi que o resultado final tivesse, sei lá, 120, 180 crônicas. É muita coisa, para uma sociedade que não gosta de ler nem outdoor, como costumo dizer aos alunos e amigos. Seria um suicídio mercadológico. Quisera eu encerrá-las com um final feliz e comemorativo. Mas nada é impossível. Acabei de pensar numa possibilidade de, eventualmente, escrever mais algumas de forma esparsa, sem numeração e regularidade, para entrarem como um anexo. Entre elas, se realmente eu fizer isso, a última, anunciando o fim desse sofrimento todo. Caso a se pensar.
 
O que me resta é agradecer a todos que me leram, que comentaram nas redes sociais, que aproveitaram para conhecer meu site e ler as outras coisas que escrevo. Aliás, se é possível pedir-lhes uma gentileza, gostaria que continuassem a me ler, pois o fato de as diacrônicas estarem encerradas não significa que não escreverei nada enquanto essa loucura passa. Com o tempo e o fôlego que me restarem após o trabalho, eu pretendo voltar a me expressar em outros gêneros, como fazia antes: minhas máximas, poemas e, conforme já dito, quem sabe, uma ou outra crônica ainda. E sempre que possível, comentem. A opinião de vocês, boa ou ruim, não importa, está para nós como o aplauso ou a vaia para os músicos e cantores: pode até não mudar nosso jeito de nos expressar, mas dá um feedback importante. Onde quer que eu escreva, compartilhem seu pensamento sobre o trabalho, por gentileza.
 
Depois de dois meses, sinto que aumentou a nossa intimidade, mesmo que alguns eu nunca tenha visto pessoalmente. No melhor estilo “Nunca te vi, sempre te amei”, livro de Helene Hanff, mas mais conhecido em sua versão cinematográfica aqui já citada, de 1987, com Anne Bancroft e Anthony Hopkins, “trocamos” correspondências através destes textos de tal maneira que fidelizamos uma relação, suponho. Fico feliz e, reitero, muito grato.
 
 
Por fim, desejo que todos superemos essa loucura que esse vírus nos trouxe, e que tiremos lições dele: de como sobreviver, de como VIVER melhor, de como dar valor à família, a nossa casa e saúde. E, claro, de como é importante saber escolher bem nossos líderes do país. Se as opções não forem boas (como há muito não vêm sendo), pelo menos devemos aprender a saber quem NÃO escolher, sempre nos lembrando daquele ditadozinho: “o que é ruim sempre pode ficar pior”. Obviamente, não é o que desejo para vocês, fiéis leitores.
 
 
Gratidão.
 
Saúde!

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