“Saída… pela esquerda” ou “Saída… pela direita”. Com esses bordões, o personagem Leão da Montanha (Hanna-Barbera) batia em retirada de situações de perigo ou constrangedoras. Assim o fez o agora ex-Ministro da Saúde Nelson Teich, deixando o cargo menos de um mês após sua posse. Ele entrou pela direita, vertente política do atual presidente. Se saiu pela mesma porta, pela da esquerda ou pela dos fundos, só o tempo dirá.
 
O fato é que nosso leão pode ter cara de peixe, mas de anta não tem nada. Aquela expressão inerte, provedora de brincadeiras que iam de “eterno sono” a “estado de zumbi” escondia uma esperteza mental que muitos não possuem para chegar à conclusão de que estar na mesma barca que o atual presidente é que é uma furada.
 
A forma pela qual Teich foi atropelado pelo decreto presidencial que permitia o funcionamento de serviços ditos ‘essenciais” como barbearias, salões de beleza e academias foi desmoralizante. Nem “Christine”, o carro assassino de Stephen King, faria maior estrago. A expressão que ele fez em coletiva, sendo informado da decisão estapafúrdia, naquele instante, por repórteres, jamais sairá de minha memória. Foi patética. Quase cheguei a ter pena dele, confesso. Parecia marido traído: o último a saber. Só não confirmei meu dó porque também me recordo muito bem da opinião dele sobre as opções na hora de deixar um jovem ou um velho morrerem por falta de material suficiente e de como ele questionou o que se faria depois da pandemia com o gasto relativo aos ventiladores mecânicos para salvar vidas.
 
O resquício de dignidade deste senhor acabou salvando-o de um vexame ainda maior. Ou manobra política, sabe-se lá. O fato é que, menos de 30 dias depois de entrar, Teich descobriu o que muitos já sabiam desde que este governo iniciou: que para o presidente, o bom Ministro, Secretário, Delegado, Deputado, enfim, qualquer apoiador, não é aquele que tem competência, mas o que segue a sua cartilha, a sua tragicomédia dos erros. Não por menos, Damares, Regina Duarte e Weintraub são seus queridinhos.
 
A pandemia é uma realidade cruel que muita gente ainda não entendeu, muito por culpa da insistência da linha de raciocínio turva de Jair Bolsonaro. Só não percebe essa influência quem não quer. A estupidez de pessoas que atribuem tudo a um plano para descaracterizá-lo é irritante. Beira absurdos como a crença sobre terraplanismo. É uma espécie de “A vida é bela” (Roberto Benigni) às avessas. Enxerga-se sempre o que se quer, desde que no final o algoz seja vítima.
 
Centenas de mortos todos os dias. Milhares de internações. Médicos de todas as partes do planeta dizendo a forma correta de tratar a doença e várias pessoas insistem em menosprezar o COVID ou atribuir aos números uma falsidade que, supostamente, teria objetivo político. Cidades inteiras paralisadas. A minha de origem, por exemplo, Quixeré, fez aniversário hoje. São 63 anos do município (parabéns, terra amada). Festa? Só se for virtual. Uma mínima demonstração de como as cidades são afetadas. Festa não é a questão crucial, claro. Quantos e quantos habitantes deste país, acostumados a uma vida simples, estão se vendo obrigados a mudar seus hábitos e se prenderem em casa, em pleno sertão, para um bando de escroques insinuar que tudo isso é um plano mirabolante para baixar a popularidade desse imbecil que comanda o país?
 
Esse rebanho de Alices do país das milícias e Pequenos Príncipes do Rei Mitos, aquele que transforma em fezes tudo em que toca e que se autoproclamou a Constituição, deveriam, já que não creem na doença, ser voluntários nos hospitais e sem nenhuma proteção. Quiçá aumentassem as estatísticas que eles dizem ser de gente que morre de tudo, menos de Coronavírus. E que se juntem aos de sua espécie: os vermes.

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