Há sonhos que não são concretizados,

Há questões que jamais são reveladas,

Há senões que, por fim, são desgastados,

E, tristonho, prossigo amargurado…

Cada olhar um mistério inquiridor,

Cada face uma nova expectativa,

A cada “será?” uma perspectiva

De pôr fim a meu triste desamor.

Mas que acontece, não sei explicar

Aquela face não me sorri mais

Aquele olhar a mim não vê jamais

E o que podia ser nunca será.

É que a gente se ilude, por amar.

A gente se tortura, por querer,

É que a gente resiste a desabar,

A gente tenta não retroceder.

Mas no fundo, eu sei, tal procura é vã:

Toda mulher procura um homem bom,

Que lhe dê vida, cores, mente sã!

Minha cor sumiu, já passei do tom.

Eu cresci muito amargo, sem prazer,

Juventude carente, sem quietude.

Angústia fez maior o meu sofrer;

Senilitude só, sem atitude.

Ah! Por mais que me doa a solidão,

Que a seiva da paixão me dê desejos

Não consigo acordar um coração

De uma bela mulher, nem por lampejo.


É que sempre me falta alguma coisa:

Beleza, para dar certa vaidade,

Fervor, para fazê-la ficar doida,

Ambição, de crescer na sociedade.

Ou então em mim sobra alguma coisa:

Vícios acumulados por paixão,

Um amor pela Arte mais afoita,

As verdades que rasgam coração.

Quero o Amor companheiro, aconchegado,

Mas em que cada um tenha um espaço

Para o conforto próprio e reservado,

Se quisermos instante de regaço.

Mas com tamanha dor que tenho n’Alma

E com essa velhice em minha idade

E com essa tristeza que não calma,

Das mulheres só tenho a Amizade.

Preciso aceitar, nem que por destino,

Que minha sina é, desde menino,

Levar afeto ao corpo feminino,

Mas nunca um amor grande, um desatino.

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